Vivemos na era do imediato. Queremos tudo para agora (de preferência, para ontem), rezamos por um dia com 32 horas, nos dividimos entre trabalho, academia, maternidade e outras tantas funções. Ufa, ficamos cansadas só de falar! Mas, qual é a influência que essa rotina agitada exerce no desenvolvimento dos nossos filhos? Se você nunca parou para pensar sobre esse assunto, talvez seja hora de dar uma pausa de 5 minutos na sua concorrida agenda e refletir.
Em primeiro lugar, devemos pensar na imagem que você está transmitindo ao seu filho. Já percebeu quantas vezes você dá respostas rápidas, muitas delas até mesmo curtas e grossas? Temos dito ‘sim’ para a maioria das perguntas sem nem ao menos pensar nelas, o que é um erro. “Na verdade, o que deveríamos dizer é ‘vou pensar, depois eu te respondo’. Isso não só ajuda a desacelerar as crianças, mas também mostra a importância de se pensar antes de tomar qualquer decisão”, afirmou a psicóloga e consultora Rosely Saião, durante o evento em São Paulo.
A reflexão é, aliás, uma das ações mais prejudicadas por essa vontade de ter tudo agora. Quando você põe o seu filho de castigo, provavelmente o coloca em um canto para que ele pense no que fez de errado. Essa simples atitude já faz com que a palavra “pensamento” adquira um novo – e péssimo – significado na cabecinha do seu pequeno. “Com isso fazemos com que o pensamento seja associado à uma punição, já que o castigo será refletir. Dar a conotação de que pensar é uma penalidade é um ato que desestimula o ato de analisar” completa Rosely.
Imediatismo x aprendizado: uma batalha em que a criança sai perdendo
Engana-se quem pensa que a internet e toda a avalanche de informações trazem apenas benefícios para o aprendizado. É inegável que as mídias sociais e a facilidade para entrar em contato com notícias ampliam a visão de mundo que as crianças têm, mas, por outro lado, também são responsáveis por algumas dificuldades do processo educativo, como explica a psicóloga Ana Paula Magrosso Cavaggioni, da Clia Psicologia e Educação (SP): “A criança sente que a televisão, a internet e seus pais já transmitem todas as informações de que precisa saber. Assim, a escola se torna um lugar desinteressante, chato”. Como você pode imaginar, essa falta de interesse faz com que a criança não tenha sequer paciência para ouvir o que o educador tem a dizer e dê um valor cada vez menor ao aprendizado em sala de aula.
Outro problema da geração z (nascidos entre 1990 e 2010) é a falta de concentração: torna-se impossível dar a devida importância a determinados fatos quando existe tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. A impressão de que a informação que chega é incontestável, unida ao ensinamento de que “pensar é um castigo”, faz com que a criança se torne uma mera repetidora dos dados que recebe, sem sequer processá-los para, então, questioná-los e encerrar o ciclo de aprendizagem.
Vale também ressaltar a influência do imediatismo familiar na educação. Como bem sabemos, a escola não é a única responsável pelo aprendizado: cabe aos pais a fatia mais importante desse processo. Os parentes precisam compreender que cada criança tem seu próprio ritmo de aprendizado – o que significa que o seu filho pode demorar mais ou menos tempo para aprender a nadar, por exemplo, do que o filho do vizinho. Parece obvio? Não é. “Às vezes a criança quer tirar uma dúvida sobre o dever de casa. A mãe explica três vezes, mas ela continua sem entender o que está sendo dito. Em seguida o adulto, já sem paciência, exclama: ‘Caramba, eu já te expliquei 3 vezes e você ainda não entendeu?’. Isso faz com que o pequeno fique inquieto, inseguro e sinta que está levando muito mais tempo para aprender do que deveria, quando na verdade somos nós que estamos impondo nosso próprio ritmo para ele”, explica Sayão.
A consequência dessa “pressa” é desastrosa para o desenvolvimento infantil, como completa a psicóloga e neuropsicóloga Simone Drigo, de São Paulo: “A partir de momentos como esse, a criança aprende que tem duas opções: ou se torna mais rápida, ou desiste. A pressão externa causa um grande sofrimento psíquico”. O melhor a fazer é tomar cuidado e evitar que esse tipo de atitude desencoraje seus filhos.
O imediatismo e a formação da personalidade
Mais do que no aprendizado, o imediatismo exerce influência direta na personalidade dos jovens que vivem sob seus efeitos. Segundo Simone, sintomas como ansiedade, estresse, alterações hormonais e impulsividade são alguns dos comportamentos desenvolvidos precocemente mais comuns. A especialista afirma que essas alterações podem se perpetuar e resultar em problemas à longo prazo.
E por falar em longo prazo, o que o futuro dessas crianças reserva? As consequências, leitora, não são nada positivas. Podemos esperar adultos que não sabem lidar bem com frustrações – afinal, sempre tiveram o que quiseram e quando quiseram, com pouca habilidade de reflexão, impacientes e com objetivos de curto prazo. “A criança imediatista de hoje, ou mesmo os pais que sofrem os efeitos dessa rotina, aprendem a abrir mão de grandes sonhos em troca de realizações menores. Quem não se permite sonhar acaba por carecer também de autoconhecimento”, diz Rosely.
Caso você esteja se perguntando se existe alguma forma de evitar que nossos filhos se contagiem pelo imediatismo, a resposta é simples. Reserve um tempo para o diálogo, sempre: “Reveja prioridades. Crianças precisam de mais do que boas escolas e cursos para se tornarem bem-sucedidas, é essencial que elas também recebam atenção e afeto. Sabemos que a vida está cada vez mais agitada, mas ter filhos significa abdicar de algumas coisas em prol de outras. É crucial que você reserve um tempo para os seus”, aconselha Ana Paula. Cabe também a você, mamãe, garantir que seu pequeno tenha a melhor experiência possível para, assim, garantir uma vida adulta próspera.
Ei! Aqui tem mais coisas legais pra você e seu filho: