A experiência do parto pode ser diferente do que a mãe idealizou e não necessariamente traumática. Mas é importante refletir que o parto não pode ser controlado, ideia que pode frustrar não só a parturiente, mas o acompanhante e a equipe que a acompanha. Acolher, compartilhar e dividir a experiência é um modo de repensar a experiência própria e aparar os sentimentos, talvez as angústias e frustrações, do que já foi vivido. E, claro, é um modo de se preparar ao longo da gestação para o que virá: não somente para se informar sobre intervenções que a parturiente pode não querer, por exemplo, mas para aprender a lidar com a possibilidade da imprevisibilidade. Os relatos de parto ajudam a compreender e a se preparar para essa experiência, visceral, que reúne em si a ideia de vida, de morte e de sexualidade. Contribuem para o puerpério, para o baby blues, facilitam a libertação da culpa – é importante que a mãe repense seu parto com consciência e não se culpe pelas escolhas que fez e pelas que não fez. Por isso, o taofeminino selecionou depoimentos de mães, relatos de partos que demonstram como é racionalizar essa experiência e as marcas que o parto pode deixar. Prepare-se para o empoderamento – e boa leitura.
“Tudo começou porque eu queria ter parto normal! Minha amiga me apresentou o mundo da humanização e eu estava lendo "O que esperar quando você está esperando?". Depois veio a frustração com obstetras do convênio que de cara conduziam a conversa na consulta para cesárea com desculpas bizarras. Então conheci o Ishtar Sorocaba, grupo que luta pelo acesso à informação, empoderamento e humanização do parto. Li muitos relatos e fiz contato com uma doula, a partir daí decidi que eu queria um parto respeitoso nas mãos de um profissional humanizado! Tive ainda que travar uma luta com o marido que defendia a cesárea. Passei por três ginecologistas-obstetras do convênio, com uma acompanhei a maior parte da gestação porque não tinha grana para bancar o particular, mas com 31 semanas, marido convencido do parto humanizado, eu fui para com um obstetra muito conhecido na humanização do parto. Diagnosticamos um quadro de líquido baixo e bebê pélvico na semana 35. Eu iniciei um tratamento homeopático, acupuntura, exercícios, dieta líquida e acompanhamento a cada 5 dias através de ultrassonografias e consultas. Nesse momento já começamos a falar da possibilidade de realizar uma VCE (versão cefálica externa) [manobra realizada por profissionais para virar o bebê na barriga da mãe, de modo que ele fique na posição cefálica, com a cabeça no sentido do ventre da mulher], bem como os ônus e bônus envolvidos. Ainda assim eu tinha muita confiança de que eu não seria aquela ‘coitada’ que segue com o bebê pélvico até o fim da gestação. O tratamento para aumentar o líquido amniótico deu resultado e eu sai da zona de risco, mas nada do bebê mudar para a posição cefálica. Optamos por fazer a manobra e aumentar a nossa chance de seguir tranquilamente para o trabalho de parto. Com 37 semanas e seis dias fizemos a primeira tentativa no consultório, mas não tivemos êxito. Dois dias depois foi hora da tentativa hospitalar com anestesia no centro cirúrgico. Minha doula estava junto para fazer exercícios que contribuem para a virada do bebê e eu estava tão confiante que nem avisamos os familiares. Eu tinha certeza de que eu estaria nos índices bem-sucedidos do tão renomado obstetra. Em nenhum momento eu duvidei que todo aquele investimento, empoderamento e planejamento iriam falhar. Somente uma em cada dez versões cefálicas externas em média não tinham êxito, os resultados do meu médico eram excelentes. Fui anestesiada, marido e doula do meu lado, iniciamos as tentativas e na segunda eu tive certeza de que ele havia virado, mas não foi! Na terceira tentativa o que aconteceu, no entanto, foi que os batimentos cardíacos do meu bebê caíram significativamente. Ficamos bem assustados nesse momento, mas após alguns minutos tudo voltou ao normal e meu obstetra sugeriu uma quarta e última tentativa já que estávamos ali e fomos tão longe. Ao iniciar essa última tentativa houve um imenso susto e algo que eu jamais havia imaginado, lido ou me preparado aconteceu: uma enorme hemorragia. Na hora, nem o obstetra sabia o motivo. Meu marido quase morreu e eu ouvi uma frase para a qual eu não estava nem um pouco preparada: ‘Vamos ter que fazer uma cesariana imediatamente.’ Meu mundo colorido da maternidade desabou em um segundo. Tantos meses de preparativos, busca por informações, empoderamento, a luta contra o sistema, a busca pelo melhor profissional, o plano de parto, as consultas com a doula, o investimento financeiro para o qual nem estávamos preparados para chegar no momento crucial e eu ser aquela gestante que gera a estatística do 'não deu certo'. Não tinha escolha mais e a cesariana aconteceu! O obstetra depois concluiu que houve uma hemorragia no colo do útero e essa era a decisão acertada no momento. Meu bebê veio direto para o meu colo ainda com o cordão, fomos respeitados. Depois ele passou alguns minutos longe enquanto minha cirurgia era finalizada, meu marido ficou com ele e não houve intervenções, como foi a nossa escolha. Foi muito, muito difícil para mim e ainda é! Chorei por dias seguidos, baby blues a todo vapor e a questão do parto me perseguindo como um fantasma! Fiz algumas sessões de psicoterapia, pois sendo psicóloga vi que não dava conta sozinha. Também tivemos muita dificuldade para estabelecer a pega correta na amamentação e eu culpava a cesárea, depois entendi que foi o processo de aprendizado dele. Por fim, acho que tudo acontece como deve ser e ele estava sentadinho porque o útero era muito bom para ele! Eu teria feito diferente? Provavelmente! Mas no momento confiei que tudo estava sendo feito como planejado e não dava pra saber como seria! Ainda almejo meu VBAC [vaginal birth after cesarian; parto vaginal após uma cesárea, em tradução livre]."
Audrey Omote Montechezi (SP), 36, mãe de Maurizio, um ano e três meses.
“Minha mãe teve dois filhos, ambos por cesarianas, que ela garante que foram muito boas e tranquilas. Portanto, não aprendi em casa que parir naturalmente, salvo raras exceções, é o melhor para a mulher e para o bebê. Ao engravidar, no entanto, sabia que queria um parto normal por uma simples razão: já fizera duas cirurgias (duas mamoplastias redutoras) e não queria passar por uma terceira cirurgia sem que houvesse uma real necessidade. Foi aí que descobri a crueldade do sistema obstétrico brasileiro: não é possível partir naturalmente pelo plano de saúde. Já tinham me dito isso, eu já havia lido isso, mas não quis acreditar e fui a três médicos do meu plano, fiquei com a terceira até mais ou menos o quinto mês de gestação. Mas previa que não seria respeitada em minha escolha, sabia que o parto normal que eu tanto idealizava não se realizaria. Foi, então, que resolvi buscar uma médica ‘humanizada’ - confesso que esse termo me incomoda, o que chamamos de humanizado deveria ser o tratamento corriqueiro, em que médicos respeitam pacientes; ou melhor, em que uma pessoa respeita outra. Encarei que precisaria pagar para ter um parto normal e fui até o consultório de uma médica que conheci num programa de TV e que, felizmente, atendia no meu bairro, há 10 minutos da minha casa. Na primeira consulta, tive certeza de ter conhecido a médica que faria meu parto, que agora eu poderia fazer planos e minha idealização de parto perfeito se realizaria: hospitalar, com assistência médica, porém, hands free, sem nenhuma intervenção. Em todas as consultas do pré-natal, a obstetra, com sua didática incrível, contava as experiências dos últimos partos que realizara ou de partos marcantes na sua trajetória. Dessa forma, sempre conversávamos sobre analgesia, indução, cesariana etc. Ela sempre falava sobre os trabalhos de parto que se desenvolviam maravilhosamente e os bebês nasciam sem nenhuma intervenção e sobre as experiências em que uma intervenção tornou possível um parto normal ou nas vezes em que uma cesariana salvou a vida de uma mãe e/ou um bebê. A cada consulta eu tinha certeza que queria entrar em TP [trabalho de parto] naturalmente, ou seja, esperaria o Francisco nascer quando quisesse (considerando o limite de 42 semanas) e que não queria nenhum tipo de intervenção. Diante do relacionamento estabelecido com a minha médica, não era necessário fazer um plano de parto, pois tínhamos uma relação de muita confiança e eu sabia que ela teria uma conduta que priorizasse nosso bem-estar, meu e do bebê. Estava indo tudo muito bem até que com 37 semanas eu comecei a ter contrações, entrara em pródromos. A ansiedade tomou conta de mim, a cada contração eu acreditava que o TP seria desencadeado. Porém, os dias passaram, as semanas passaram e nada acontecia. Com 39 semanas eu já estava desesperada. A essa altura, tínhamos consultas semanais e eu sempre pedia que a médica realizasse o toque para verificar ser havia dilatação e insinuava que queria o descolamento de membrana. Ela, obviamente, graças a Deus, não me dava confiança. Dizia que eu deveria me acalmar, que estava tudo bem e dentro do tempo. Havíamos combinado que faríamos a indução com descolamento de membrana com 41 semanas e quatro dias. Seria uma segunda-feira, pois, aparentemente, Francisco estava com preguicinha de nascer. Chorei o domingo inteiro. Estava frustrada, me sentindo incapaz de parir, gorda, horrorosa e tudo mais de horrível que alguém pode sentir. Além de tudo, passei o domingo inteiro com uma dor de barriga terrível, eu não sabia, mas aquilo era o começo do meu trabalho de parto. Às 15h, uma contração; às 18h, três em sequência; às 22h, as contrações começaram a se repetir, porém com duração, intensidade e frequência irregular. De 3h da manhã até às 9h, elas vieram de 10 em 10 minutos. Não dormi aquela noite, mas estava realizada por entrar em trabalho de parto e tinha a certeza que agora seria tudo como eu idealizei. HAHAHAHAHAHA. Ledo engano. Às 11h da manhã, cheguei no consultório já com cinco centímetros de dilatação, fomos dali direto para a maternidade. Eu já estava com tanta dor que sentia meu corpo dormente, minha visão estava turva e eu não conseguia falar. Eu nunca poderia imaginar que passaria por isso, pois sempre fui bastante resistente a dor. Mas ali, naquele consultório, às 11h da manhã, eu já estava tão fraca que se a médica me oferecesse qualquer coisa para diminuir a dor naquele momento, eu já aceitaria. Depois que chegamos na maternidade, eu comecei a pedir analgesia, eu comecei a implorar que ela rompesse minha bolsa para acelerar as coisas e tive todos os meus pedidos negados. Posteriormente, mesmo com a evolução da dilatação e a frequência das contrações, o bebê não estava descendo. Então a médica propôs o rompimento da bolsa, eu aceitei. Como ainda assim, ele não descia, a médica propôs a analgesia e a administração de ocitocina, eu aceitei. Ainda assim, o Francisco não desceu. A médica propôs o uso do kiwi, eu aceitei. Parece mentira, mas ainda assim ele não descia. Eu já estava exausta e gritei: ‘Chega! Vamos fazer a cesariana.’ A médica, diante da minha absoluta exaustão, assentiu. A médica auxiliar, porém, questionou: ‘Falta tão pouco, porque você não tenta só mais um pouquinho?’. Fiquei desestabilizada, mais uma vez meus sentimentos se confrontaram. Se por um lado eu me sentia esgotada, por outro, eu ainda queria realizar meu sonho de parir. As médicas sugeriram que eu e meu marido conversássemos e tomássemos uma decisão; enquanto isso elas pediriam que a sala de cirurgia fosse arrumada. Agora, veja bem, uma mulher em trabalho de parto há quase 24 horas condições de tomar uma decisão sensata? Pedi para o meu marido decidir. Ele disse que eu devia decidir. Morrendo de medo, ele disse que achava que eu deveria tentar mais um pouco. Era tudo que eu queria ouvir, queria que ele acreditasse em mim e me incentivasse. As médicas voltaram à sala e comunicamos nossa decisão. Agora eu estava decidida a parir. A essa altura não havia mais efeito da analgesia e a aocitocina inda estava na minha veia. As contrações eram fortíssimas. Eu fazia muita força. Em menos de 30 minutos ele desceu e eu entrei em período expulsivo. Eu enlouqueci, entrei na partolândia com tudo e, depois de três contrações meu filho veio para os meus braços. E quando o seu filho vai para os seus braços é como se nada daquilo tudo tivesse acontecido. Eu fui tomada por uma euforia e um amor tão grande, que parecia que toda que toda aquela dor não era nada. Eu estava apaixonada por aquele bebê e me sentindo a mulher mais poderosa do mundo. Vi uma foto que a médica tirou e posso afirmar que aquele sorriso que está no meu rosto é inédito e acho que só poderá ser repetido quando eu tiver meu segundo filho. Com essa experiência de gravidez e parto, eu aprendi que sou muito mais fraca e, contraditoriamente, mais forte do que eu imaginava. Aprendi também que a natureza é muita sábia e imprevisível e que os nossos planos sempre vão encontrar o limite da realidade: às vezes, eles coincidem, às vezes, não”.
Emanoelle Farias (RJ), 31, mãe de Francisco, dois meses.
"Eu queria um parto normal, sem analgesia e com a segurança do hospital. Preferencialmente na banheira, ou de cócoras, o que me fizesse mais confortável na hora. Imaginava minha música tocando, luz baixa, ambiente calmo e sem gritarias. Muita paciência para a Maria Clara nascer. Apesar de querer assim não me lembro de discutir todos esses detalhes com a minha GO. Lembro de perguntar para ela se eu deveria fazer e levar meu plano de parto para o hospital, mas ela disse que não era necessário. Assim que completei 38 semanas, minha bolsa estourou em casa, por volta das 11h da manhã. Estava feliz e bem calma. Já fazia um bom tempo que sentia as contrações de treinamento. Falei com a GO logo em seguida, ela me disse para tomar um banho, comer e sem pressa ir para o hospital. Fiz tudo isso, até queria esperar mais em casa, mas a ansiedade começou a bater e cheguei no hospital por volta das 14h. Ainda tinha contrações bem espaçadas, não ritmadas e bem fracas. A enfermeira-obstetriz que trabalha com minha GO estava lá e fez o primeiro atendimento. Estava com 2,5 centímetros de dilatação. Ela me orientou a andar muito e agachar durante as contrações. Fiz isso o tempo todo, logo minha médica chegou, liberaram um quarto e continuei andando sem parar, agachando nas contrações. Quase não sentia dores, estava ótima! Pedi a bola de pilates para desbancar um pouco nela, e treinar os movimentos que aprendi na fisioterapia. Entre 17h e 18h, veio a primeira contração bem forte. Me assustei bastante com a intensidade da dor, principalmente por ser tão repentino. Elas ainda não estavam ritmadas, mas a dor era bem intensa. Tentei continuar andando, mas comecei a ficar enjoada. Tentei ficar na bola, mas não aliviava. Pedi para chamarem minha GO (ela não ficava comigo durante esse tempo, só as enfermeiras do hospital e meu marido). Ela me examinou, disse que eu podia ir para o chuveiro. Disse também que só estava com três centímetros de dilatação ainda e ia demorar. Não sei porque me bateu uma vergonha de gritar quando sentia dor. Guardei o grito dentro de mim e isso foi a pior coisa. As contrações estavam bem intensas e a cada dois minutos minha GO disse que ainda estava só com 3,5 centímetros e perguntou se não queria tomar analgesia. Concordei. Desci para a sala de pré-parto. Me deitaram na maca para fazer essa transição de ambientes. Meu marido também saiu para se trocar e foi a hora que me senti mais assustada. Na hora esqueci de tudo que queria e tinha planejado, não conseguia focar em nada, só na dor. Então assim que a medicação entrou no meu corpo trazendo alívio imediato, foi ótimo. Porém minutos depois vi que não sentia absolutamente nada. Só percebia as contrações por conta dos aparelhos ou se tocasse na minha barriga. Não sentia minhas pernas. Fiquei bem sonolenta e ainda bem nauseada. Na hora me arrependi. Tentei comer, mas o enjoo não deixou. Todos saíram do quarto para eu tentar descansar, mas apesar do sono não consegui. Lá pelas 20h15 a GO voltou para medir a dilatação. Achávamos que minha filha nasceria depois da meia-noite, mas para a surpresa de todos eu já estava com 8,5 centímetros de dilatação. Ainda na sala de pré-parto comecei o expulsivo. Primeiro na maca, depois no banquinho (mesmo sem sentir as pernas, meu marido me segurou!), pensei que ao menos teria ela de cócoras, quietinha lá! Só que assim que coroou, pararam tudo. Voltei para maca e entramos na sala cirúrgica (me ligaram em mil aparelhos, passei para a cama ginecológica (nem sei se esse é o nome, mas é aquelas com apoio para a perna) me cobriram inteira para cuidar a privacidade do parto, por causa da porcaria da janelinha dos acompanhantes. Foi super-rápidido e bem tranquilo, ela veio direto para meu colo depois que nasceu, muito saudável. Ficou uns minutos comigo, depois foi ser examinada com a pediatra (meu marido acompanhou). Durante o expulsivo me lembro da minha GO e a assistente dela ficarem falando: ‘Ihhh, acho que vai precisar de episio...’. Eu pedia para não fazer, perguntava o que mais poderia fazer para evitar isso. Esse papo de episiotomia rolou até a hora dela nascer. Mas não fizeram, ainda bem! Tive uma laceração mínima. Depois de todos os procedimentos, encontrei minha filha novamente na sala de recuperação. Ela estava em uma incubadora esperando o aval da pediatra de plantão. Diziam que era muito pequena (2.580 g) e não estava segurando sua temperatura.
Tivemos o aval e ela veio direto para mamar. A enfermeira-obstetriz me ajudou na pega. Ela tinha uma sucção muito forte, linda! Ficamos juntas, com ela mamando talvez uns 10 minutos até aparecer outra enfermeira do hospital, falando que precisávamos sair de lá e minha filha tinha que parar de mamar. Pedi para ela voltar daqui a pouco, falei que ela estava mamando, falei que não queria tirar, etc. A mulher colocou o dedo na boquinha dela, tirou de mim e só fui vê-la de novo quase uma hora depois. Levaram ela para tomar banho. Acho que de tudo essa separação desnecessária bem na primeira mamada foi a pior parte. Também não deixaram ela ficar a noite comigo, disseram que ela não estava segurando a temperatura sozinha. Não dormi a noite toda pensando que iam dar LA [leite artificial] para ela, por ter mamado tão porquinho ao nascer. Mas isso não aconteceu, ainda bem. Meu parto foi tranquilo, mas lembro de me sentir meio traumatizada nos dias seguintes. Vejo que me preparei mal, deveria ter tido uma doula. Queria alguém comigo o tempo todo, me tranquilizando, me dizendo que eu era capaz, me dando recursos para lidar com as dores e a situação. Na verdade, eu pesquisei e me informei muito antes, mas na hora não conseguia fazer nada sozinha, e minha médica quase não estava junto para me dar esse suporte. E as enfermeiras do hospital não fazem esse papel, claro! Odiei ter que parir deitada. Odiei ter tanto sono. Odiei não lembrar direito desse momento por estar sob efeito de analgesia. Odiei não ter gritado quando senti dor, colocado para fora tudo que sentia. Odiei não ter controle nenhum na situação. Odiei profundamente aquela janela aberta, com toda a família vendo o parto! Odiei muito, e odeio até hoje terem tirado minha filha do meu colo na sua primeira mamada. Mas aprendi com tudo isso, sei que terei que procurar outro médico para o nascimento dos meus futuros filhos, e discutir mais claramente com o GO minhas expectativas, sem medo de ser repreendida. Na verdade, hoje vejo que um parto normal não precisa de médico, roupas cirúrgicas, hospital (quando não há nenhum problema de saúde). Tem que ter ambiente calmo, suporte e apoio para a mãe e experiência de quem auxilia no parto!"
Carol Roberta Santos (SP), 28, mãe de Maria Clara, sete meses.
“Eu engravidei no susto, não esperava, tomava pílula. Após o susto inicial, comecei a pesquisar muito, pois até então eu não sabia nada sobre partos e bebês. Sempre quis parto normal e decidi que seria o mais natural possível. Mudei meus hábitos alimentares, comecei hidroginástica, caminhava, fazia drenagem. Minha pressão começou a subir e então o médico entrou com medicação, minha pressão ficou controlada. Tive que mudar de médico, primeiro porque o meu cobrava para tudo, segundo porque mudou o plano do convênio e ele não atendia. Minha DPP (data prevista de parto) era em 25 de janeiro. Porém, em novembro foi necessário aumentar a dose do remédio, pois a pressão voltou a subir. Em dezembro, por causa das férias coletivas, o GO pediu que eu fosse ao hospital para acompanhar só para ver se estava tudo bem. E assim fiz, ao fazer o ultrassom o líquido estava diminuído, pediram repouso e retorno em dois dias. O líquido continuou diminuído e mandaram retornar no dia seguinte. Fui e voltei por vezes até o líquido estar equilibrado, mas aí desenvolvi uma infecção urinária, já eram fim de dezembro. Pediram que eu retornasse depois da virada do ano. Retornei e estava tudo bem, mas ao chegar em casa não me sentia bem e ao aferir a pressão estava 16/10, o que era alta. Tomei remédio e fui dormir. Quando acordei, estava 17/10. Resolvi ir ao pronto-socorro. Na primeira medição, 18/10; na segunda, na sala do GO, 19/10 – ele pediu minha internação imediata. Ele pediu a minha internação imediata, por ele faria o parto pela manhã, mas a equipe da manhã tinha que acatar diversos exames, cardiotoco, buzina, urina, sangue, jejum. E a equipe da manhã não concordou. A pressão não ficava estável (alta ou baixa), variava de 12/10 a 15/10. Meu médico solicitou que dessem andamento com o parto. A médica que não autorizava e o médico que me internou indicando o parto. A médica que não autorizava sequer olhou meus exames. Quando outra médica passou e pediu minha pasta de exames, ao ver o fator v de Leiden heterozigoto, indicativo de risco de trombose, na hora ela mandou suspender as refeições me encaminhar para o parto. E já havia sido diagnóstico doença hipertensiva gestacional. Uma demora poderia gerar um risco muito grande para mim e para a bebê. A felicidade de poder ter minha bebê e sair daquele hospital era imensa. Até me ver sendo aberta em uma sala de cirurgia, contra os meus sonhos e desejos. Só conseguia pensar no porquê de ser dessa forma, porque minha pequena não podia escolher o tempo de nascer. Eu queria tanto ter sido capaz de colocar ela no mundo, por eu mesma. O que me faz mais fraca, mais incapaz. É difícil, nem que venha algum dia um segundinho, me perdoarei. E para ser bem sincera perdi a vontade de ter mais filhos por isso. Dói você querer o melhor e não poder dar.”
Samantha Ponzio (SP), 27, mãe de Ana Beatriz, de sete meses.
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