Você já sabe que amamentar requer paciência e persistência. Não é um processo natural. Mãe e bebê precisam aprender. A mãe, a ensinar a pega, a lidar com a dor dos primeiros dias, a lidar com a apojadura (a descida do leite). O bebê precisa aprender o movimento de sucção, a pega correta, a posição correta no colo da mãe. Além disso, a mãe que começa a amamentar precisa frear todos os comentários negativos e opressores sobre a amamentação, já que a cultura de amamentação no Brasil ainda é prejudicada (e muito) pelo sistema da praticidade de dar fórmula infantil para o bebê e introduzir alimentos desde os três meses (há casos em que com menos de dois meses, bebê bebem água e chá, acreditem) – e não se deixar atingir por tudo isso é muito difícil no puerpério. Estar bem informada sobre as atualidades de amamentação é um passo adiante para mudar esse cenário.
Que a amamentação deve ser exclusiva até o sexto mês de vida (sem água, chá ou qualquer outro líquido), você já sabe. Essa é a recomendação tanto do Ministério da Saúde quanto da Organização Mundial da Saúde. Além disso, é recomendado que o aleitamento seja a principal fonte de nutrientes do bebê durante o primeiro ano de vida, mesmo com a introdução alimentar estabelecida. A partir do primeiro ano, o leite materno ainda é importante para a manutenção de uma série de nutrientes. Os mesmos órgãos de saúde recomendam aleitamento materno até o segundo ano de vida (qualquer desmame antes desse tempo é considerado precoce). As opiniões alheias sobre amamentação atrapalham. Falar que o bebê está fazendo o peito da mãe de chupeta (contradição clara, já que a chupeta foi feita para substituir o peito; logo, ele faz a chupeta de peito, não o contrário), que o bebê mama demais, que ele só quer peito e que isso é estranho, que ele precisa engordar, que ele precisar dormir e o peito alimento pouco, que o leite da mãe é fraco. Mitos do senso comum de uma cultura sistêmica que não apoia o aleitamento materno. Para todos, busque se informar, pois são todos mitos sobre o aleitamento. Saber-se nutriz de seu filho é insubstituível.
Se você fez redução mamária ou colocou prótese de silicone e pensa em amamentar, prepare-se para a enxurrada de informações contraditórias e para os comentários que vão desestimular você a amamentar. Um grande número de mulheres que fizeram mamoplastia redutora acaba não amamentando por má orientação profissional, não por incapacidade física. Mulheres que fizeram a mamoplastia, por exemplo, na adolescência, se deparam na vida adulta com o receio de não conseguir amamentar. É de fato possível que a mulher que fez a redução não consiga amamentar. Mas quando ela fez a mamoplastia, ela pensava que um dia quereria ser mãe e amamentar? Tornar-se mãe é um processo e a vontade de amamentar surge conforme você se torna mãe – o que não é uma regra, obviamente.
Às claras: é plenamente possível amamentar com redução de seio ou prótese de silicone. Para você entender mais sobre o assunto e se preparar para quando chegar a sua vez, o taofem conversou com um cirurgião especialista no assunto e, claro, com mães que vivem e viveram a experiência.
Amamentar com prótese de silicone
Há vários tipos de prótese de silicone. Há a forma redonda, mais usada, a anâtomica, em forma de gota e a cônica, para perfis diferentes de seio, perfil mais baixo, alto e superalto. Cada forma e projeção varia de acordo com a empresa que fornece o produto. É o que explica o cirurgião plástico José Neder Netto. Segundo Neder, a prótese de silicone não interfere na amamentação porque não ocasiona mudanças nas glândulas mamárias. Isso porque a prótede de mama é colocada em posição subglandular ou submuscular, não tendo relação negativa com a amamentação e doenças inflamatórias das mamas, como mastite, e infecções fúngicas, como candidíase.
Quando você começar a amamentar, receberá uma série de dicas sobre como cuidar dos seus seios. Além de higiene local com água e sabão, sem cremes e hidratantes em toda região, para não misturar o seu cheiro com o cheiro sintético, por exemplo, você vai saber que seu leite ocasionalmente vai empedrar, principalmente no começo, quando sua produção não estiver ajustada, isto é, enquanto seu organismo não estiver acostumado com a quantidade de leite que precisa produzir para seu filho (esse dia irá chegar). Até lá, haverá situações em que seu seio ficará empedrado, principalmente nas laterais. A solução é massagear a região cuidadosamente com dois dedos em movimentos circulares. Se você tiver muito leite, uma dica importante, entre as mamadas, nunca antes de você amamentar ou logo em seguida, é fazer compressa com água corrente. Isso ajuda a amenizar a produção e seu seio não ficar tão duro e cheio a todo momento. Lembre-se que essas dicas são úteis para amamentar em livre demanda, ou seja, quando seu bebê solicitar.
A mãe que tem prótese de silicone pode seguir as mesmas orientações que a mãe que não tem prótese e amamenta. Os cuidados são os mesmos. As recomendações de aleitamento materno exclusivo, prolongado, livre demanda e de asseio são as mesmas.
Amamentar com mamoplastia redutora
A amamentação para quem fez redução de seio requer um pouco mais de atenção, de acordo com Neder. Isso porque há várias técnicas cirúrgicas para a redução de mamas. A redução de mamas (ou mamoplastia redutora) pode reduzir a chance de amamentação em até 30%, pois na cirurgia ocorre a retirada de grandes quantidades de tecido mamário (glândula e gordura) e a cicatrização desses tecidos. A redução em 30%, porém, não impede uma amamentação estabelecida com sucesso. Quem fez redução de seio pode amamentar. O mito que sustenta que não é possível amamentar com redução é mesmo que sustenta a ideia de que muito seio equivale a muito leite e pouco seio equivale a pouco leite. Lendas urbanas da amamentação. O tamanho das mamas não tem nenhuma relação com a quantidade de leite materno produzido. A produção do leite está relacionada aos hormônios do período gestacional e do aleitamento materno, principalmente prolactina e ocitocina.
Os cuidados com os seios devem ser os mesmos de quem nunca passou por uma mamoplastia. A massagem para desempedrar o seio é também feita com dois dedos em movimentos circulares. A mamoplastia não facilita o aparecimento de infecções, como mastite, e infecções fúngicas, como candidíase. As recomendações de aleitamento materno exclusivo, prolongado, livre demanda e de asseio são as mesmas.
Em uma revisão de estudo publicada em 2010 no Journal of Plastic, Reconstructive & Aesthetic Surgery, publicação da Associação Britânica de Cirurgiões Plásticos, Reconstrutivos e Estéticos, os autores recorreram à literatura internacional para estudar a amamentação além dos seis meses exclusivos em mulheres com mamoplastia devido à falta de consenso científico sobre o assunto. Na revisão, estudaram tudo publicado sobre o tema entre 1950 e 2008. O resultado? Não parece haver nenhuma diferença na capacidade de amamentar após mamoplastia redutora em comparação com mulheres que não viveram tal intervenção entre a população geral norte-americana durante o primeiro mês pós-parto. O mais importante: a pesquisa mostrou que as dificuldades relacionadas à amamentação em mulheres com mamoplastia são mais explicadas por questões psicossociais relacionadas ao aconselhamento que elas recebem dos profissionais de saúde do que por incapacidade física de amamentar.
Histórias de quem amamenta com mamoplastia e prótese de silicone
“Uma mama era bem diferente da outra, não quis tirar muito, mas cresceu muito de repente e me incomodava muito. Eu já tinha desvios na coluna, mas não foi por isso que optei por fazer. Lembrei de ter essa ter sido uma preocupação com aleitamento e o médico disse que não haveria problema. Eu já estava no segundo ano da faculdade e tinha certeza do que queria. Comecei a estudar sobre o assunto desde o terceiro mês da gestação (adoro ler sobre o mundo materno). Além da minha cirurgia, minha mãe não amenizou nenhum dos filhos, disse que não tinha leite. Nem engravidei e ela comprou mamadeiras, brigamos porque nem cresceu a barriga e ela já estava me incapacitando. Cheguei a ler alguns sobre amamentação por cirurgia e vi que a média era de três meses, mas resolvi não me aprofundar, já tinha resposta que era possível e parei de ler sobre, não estava claro o motivo, e preferi acreditar que era por estética ou algo assim que elas paravam. Até tomei medicamento para aumentar a produção por medo, continuei até me sentir segura. Minha meta era da OMS, sou muita alérgica e minha nutricionista conversou muito comigo sobre a importância para prevenção de alergias e fortalecimento do bebê. Fui muito determinada, o Matrice [grupo virtual de apoio à amamentação ajudou muito]. Tive meu filho no interior, fiquei na casa da minha mãe nos primeiros meses. Minha família reclamava que ele não saía do peito, que eu dava muito colo e que ele parecia um piercing que coloquei na mama. Tentei ignorar o pediatra, o que foi muito bom, principalmente porque meu filho nasceu de baixo peso, prematuro limítrofe de parto normal e com icterícia. Ele dormia nas mamadas, eu ficava mexendo nele para mantê-lo acordado. Cheguei a brigar com o bebê sobre ele querer muito tetê, mas graças ao grupo sabia que era o correto e logo acabamos nos ajeitando. Minha família sempre achou ele magro, mas como sabia da minha determinação ninguém falou nada. Tive apoio do marido, conversamos sobre a importância inclusive para prevenir obesidade (ele é obeso e tem medo que os filhos se tornem), ele foi ótimo no primeiro, mas nem ajudou no segundo. O segundo filho foi mais fácil, ei já estava confiante é já sabiam que não adiantava falar. O mais difícil foi manter por mais tempo a amamentação, muita recriminação. Meu primeiro filho recebeu uma dose de complemento no hospital, contra minha vontade - achar que é inócuo é um grande problema. Isso aconteceu porque ficamos uma semana internados pela icterícia, quiseram me dar alta e a proposta era dormir lá à noite, mas eu disse que teriam que arranjar onde ficar, já que eu não sairia de lá, então fiquei internada junto sem precisar. Quando me deram alta ele estava com menos de 2 kg, acredito que a falta da livre demanda e de achar que ele precisava ficar na luz atrapalharam. Meu pai não olhou direito para o meu filho até ele ter três meses, achou que não ia vingar. Também achou que eu precisava começar a introduzir alimentos com três meses, como fez com a gente e que hoje é um dos motivos da alergia, alegava que ia ficar desnutrido e não iria aceitar alimentos mais tarde. Meu filho construiu sua própria curva de crescimento. Começou abaixo, z3 no score, passou para o z2 com 3 meses e foi se aproximando da média. Hoje mantém-se pouco abaixo dela, mas com relação peso altura perfeita - não somos altos”.
Bibiana Caldeira Monteiro (SP), 40, mãe de Bernardo, cinco, e Pedro, um ano e cinco meses, fez mamoplastia redutora por uma questão estética.
“Eu sou instrumentadora cirúrgica e trabalhava com cirurgião plástico, sempre gostei desse mundo, sempre tive vontade de colocar prótese por achar esteticamente mais bonito, então como já tinha seios bons de tamanho, fiz uma pequena redução e coloquei a prótese. Saí da maternidade com a instrução de que provavelmente eu não teria como amamentar, com a receita de complemento e muito medo e tristeza. Então comecei a procurar todas as formas que pudessem resolver: remédios com efeito colateral para a produção de leite, ordenha por máquina o tempo todo, chás, massagem, banho quente, canjica e por aí vai. Na maternidade, a única pessoa que me incentivou foi uma enfermeira. Eu ganhei a visita de uma consultora. No quinto dia da visita desceu um pouco de colostro na ordenha. E dei na colherzinha para minha filha. No sexto dia, em uma mamada ordenhei mais de 80 ml, isso em 15 minutos. E então começou a jorrar, até hoje é assim. Naquele dia mesmo parei o complemento. Mesmo a família atormentando. Mas meu corpo já estava pronto para sustentar minha cria. E eu sabia que seria suficiente e fundamental para ela. No primeiro instante achamos que ela não fosse pegar, ela não sabia fazer a sucção, então fizemos por sonda e ela no peito. A consultora de amamentação passou a tarde conosco, quando chegou o fim do dia, quase na hora dela ir embora, minha filha mamou. Mamou muito e nunca mais largou, mesmo com a IA, ela não dispensa o mama. Passei por muitos pediatras nesse meio tempo. Era ouvir asneira e procurar outro”.
Samantha Ponzio (SP), 27, mãe da Ana Beatriz, de oito meses, fez uma mamoplastia redutora e colocou prótese por uma questão estética.
“Tenho dois filhos. Fiz cirurgia de redução com 17 anos, há 14 anos. No meu primeiro eu não me preocupei tanta durante a gravidez, achei que podia interferir, mas não seria um empecilho. Mas não foi bem assim, fiquei superinsegura porque ele não pegou muito peso no começo. Fiz um acompanhamento por duas semanas e ele não ganhou muito peso. O médico ficou na dúvida também se esperava ou complementava. Mas ele viu que eu também estava insegura. Acho que acabou falando para complementar para não arriscar. Resultado: dava peito e depois mamadeira em todas as mamadas. E foi assim até quase quatro meses quando ele não quis mais o peito. E eu desisti de insistir e ele chorar para pegar o peito. Agora, no meu segundo filho foi completamente diferente. Pesquisei mais sobre o assunto, procurei mães que tiveram sucesso em amamentar mesmo com redução, não encontrei muitas, na verdade. Já tinha o histórico do meu primeiro filho que sempre mamou pouco e dormia muito e mesmo com o complemento ganhava pouco peso. Come bem, mas o biotipo dele é de uma criança pequena. Então eu já sabia que o segundo não seria muito diferente né. E outra, eu tive leite, só não sabia se era suficiente. Mas com o Vítor foi tudo diferente. Tive parto normal, o que eu acho que ajudou também na minha disposição para amamentar. E ele mama muito mais, nunca precisei acordá-lo para mamar, ao contrário do meu primeiro filho. Fiz um acompanhamento semanal/quinzenal e agora vamos acompanhar o ganho de peso só uma vez por mês. Ele está engordando muito mais do que o esperado. Engordou 1 kg por mês praticamente. Com uma média de 38 g/dia (o normal é de 20 a 30g/dia). Isso sem mamadeira, sem nada. Só peito. Meu médico, na época, disse que teve que remover ductos mamários. Mas pelo visto não removeu tanto a ponto de interferir. Tenho uma amiga que fez redução também e o caso dela foi que a filha só perdeu peso durante um mês inteiro. Mas a verdade é que a insegurança no começo da amamentação e as outras dificuldades também que a gente passa acabam piorando a situação”.
Valéria Angelis Valença (SP), 31, mãe de Renan, de três anos e sete meses, e Vitor, de dois meses, fez mamoplastia redutora ainda na adolescência, por uma questão estética.
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