Você se tornou mãe há um mês, passou pela experiência do parto e, digamos, ainda está digerindo todas as emoções, os detalhes e as lembranças daquele momento – seja seu primeiro, segundo ou terceiro filho. Junto a isso, o bombardeio de dicas e informações sobre amamentação, sobre como você deve seguir com horários (acredite, é preferível não seguir horário algum; adote a livre demanda e seja feliz), sobre como você deve colocar o bebê para arrotar, como lidar com os golfos, se acorda para mamar ou não, se deve ou não dar chupeta e mamadeira (também é preferível que não dê nenhum dos dois), se a pega está correta – a cada filho que nascer, você vai enfrentar todo o processo novamente, cada cria é uma cria e a cada vez você será uma nova mãe.
Além disso, cuidar vinte e quatro horas de um novo ser (e suspirar de amor por ele), encontrar tempo para tratar da sua alimentação e de você mesma (vamos deixar atividades domésticas fora da lista dessa vez). Os 30 primeiros dias de amamentação são os mais desafiadores. Fique atenta às estatísticas: apenas 10% das brasileiras amamentam exclusivamente até os seis meses. O tempo médio de aleitamento exclusivo no Brasil é de 54 dias. Para completar, 59% dos nossos bebês tomam mamadeira antes de um ano e 42% das crianças da mesma idade usam chupeta – bicos artificiais prejudicam a amamentação e causam a chamada "confusão de bicos", o bebê desaprende a mamar, porque o movimento de sucção do seio e o da chupeta/mamadeira é diferente.
Por isso, conversamos com algumas mães do Matrice - Ação de Apoio à Amamentação para saber quais foram os desafios que elas enfrentaram – para encará-los, você já sabe: informação!
"A coisa que mais me confortava o coração no primeiro mês era ouvir que a dor ia passar. E passa! Era o que eu diria: que passa e que a pessoa não desista, afinal, há mil formas de estimular a amamentação. Quando Jojo nasceu, eu não sabia nem um terço do que eu sei hoje. Na minha cabeça, amamentar era automático. E não é, né?"
– Isabela Barros (SP), 38, mãe do Joaquim, de um ano e meio
A dor no seio vai passar. Mas é preciso paciência e disposição para compreender que amamentar exige entrega e exige que seu corpo se acostume. Com o tempo, seu seio ficará calejado de tanto amamentar e a dor vai passar. De primeira, você vai ter que aprender sobre pega, posições para amamentar e terá muito sono enquanto começa a conhecer seu filho e a se descobrir mãe.
"Realmente é muito individual, eu por muita sorte nunca senti dor, nunca rachou bico, nada. Desde o começo ela plugou e não doeu. Eu já estava preparada para o pior, lia muitos relatos, mas não foi nada que eu fiz , foi sorte, mas quando falo ninguém acredita. Para mim, o desafiador foi saber se deveria acordá-la ou não para mamar. A médica dizia 'se passar de 4 horas, acorda' e minhas amigas diziam deixa dormir."
– Melissa Pessoa (OR), 34, mãe da Sabrina, de 8 meses
Acordar ou não um bebê para mamar? Dois indicadores podem ajudar: o tempo de vida do bebê e as fraldas. Um bebê recém-nascido, de poucos dias, ainda não entende o que é estar do lado de fora da barriga da mãe e não está com uma rotina estabelecida. Por isso, é importante observar o ganho de peso do bebê e amamentar em livre demanda, ou seja, quando o bebê quiser. O que quer dizer, talvez, amamentar horas seguidas. Para os primeiros dias, é recomendável acordar o bebê em um intervalo de duas horas para mamar. Ganho de peso está bom, fraldas estão cheias? Não acorde. Fralda cheia é sinal de bebê mamando bem. Deixe-o mamar o quanto quiser.
"Ter em mente que será preciso se doar. Pra mim, isso foi o principal nos primeiros 30 dias, saber que meu corpo, principalmente os seios, não eram mais meus e sim do bebê, que tudo giraria em torno dele. Sabemos que há essa necessidade, mas não a intensidade disso."
– Carolina Correia (SP), 32, mãe do Guilherme, de cinco meses
O puerpério é intenso e pede uma suspensão de uma série de conceitos, de considerações e de costumes, para que a mãe e o pai redescubram e reaprendam a vida com um bebê. Como define Laura Gutman em A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra, “a vida cotidiana é passada entre quatro paredes, pois sair com um bebê muito pequeno é quase sempre desanimador”. (...) As mulheres puérperas tem a capacidade de sintonizar a mesma frequência do bebê, o que lhes facilita criá-los, interpretar suas necessidades mais sutis e se adaptar à nova vida. Por isso é frequente a sensação de estar flutuando em outro mundo, sensíveis e emotivas, com as percepções distorcidas e os sentimentos confusos. (...) Definitivamente, o puerpério é um abertura de espírito. A astúcia consiste em compartilhar esse período com mulheres que tenham a intenção de atravessar esta experiência em vez de perder tempo com pessoas que temem as mudanças, tentando justificar o que acontece com elas e fazendo de conta que não estão submersas na loucura”.
"Que o bebê não está fazendo seu peito de chupeta! Isso não existe! Que esse contato é importantíssimo para a produção de leite e para mim foi superimportante para que eu e a minha filha nos conhecêssemos, entendendo o que acontecia e passando por aquilo juntas. Que o peito também é amor, acolhimento e carinho e que o bebê só quer estar perto de você."
– Damiana Angrimani Bonavigo (SP), 33, mãe da Manuela, de um ano e oito meses
Quem veio primeiro: o seio ou a chupeta? Por isso, a ideia de que o bebê está “chupetando” não tem nenhum sentido. Na verdade, seu filho mama a chupeta para satisfazer a necessidade de sucção dele. Sucção essa que, no seio materno, está relacionada ao alimento, ao leite, mas também ao amor líquido. O aleitamento é o primeiro contato externo físico que o bebê busca e nele encontra segurança e muito amor. Segundo o pediatra Carlos González no Manual Prático de Aleitamento Materno, “o bebê nasce com a capacidade de procurar o peito, reconhecê-lo e aproximar-se dele. Quando é deixado sem roupas imediatamente depois do parto (antes mesmo de cortar o cordão umbilical) sobre o corpo nu de sua mãe, em alguns minuto começa a mover-se, arrasta-se como pode até o peito e começa a mamar, normalmente em uma posição perfeita.”
"Informe-se, leia, pesquise! Crie a rede de apoio, porque depois que nasceu tudo fica mais complicado. Saber antes me ajudou MUITO!"
– Carolina Vasconcellos (SP), 28, mãe do pequeno Artur, de oito meses
Antes de o bebê nascer, é importante você pesquisar sobre a pega correta, as posições de amamentar para recém-nascidos, aprender a posição de amamentar deitada, saber mais sobre livre demanda, sobre ganho de peso e curva de crescimento. Além de poder fazer parte do Matrice e do Grupo Virtual de Amamentação (GVA), ambos no Facebook, você pode ler o livro Manual Prático de Aleitamento Materno, de Carlos González, e também o álbum Promovendo o Aleitamento Materno, da Unicef. Aproveite também para ler 10 dicas para você se preparar para a amamentação.
“Informação é essencial. Eu tive doula, parteira consultora, apoio total na maternidade e isso foi essencial para o sucesso da nossa amamentação. Acho que o que precisa mesmo é apoio de todos os lados. Conheço muita mulher que desmamou por falta de informação e apoio. Pariram lindamente ou não, em maternidades de primeira linha de São Paulo e não tiveram a amamentação na primeira hora ou uma orientação descente pelos profissionais que as atenderam. Poucos hospitais seguem as diretrizes do Hospital Amigo da Criança e as consequências são terríveis.”
– Ana Clara Fonseca (SP), 31, mãe da Elis, seis meses
A rede de apoio é essencial para a nova mãe. Por isso, familiares e companheiros(a), essa não é a hora de dizer “você não vai conseguir”, “dá muito trabalho” ou “essa criança só mama”. É hora, primeiro, de ser positivo, de contribuir com os cuidados da casa enquanto a mãe cuida do bebê. A prioridade da mãe por um tempo será o bebê e é importante que o “ninho” esteja confortável. É importante que essa mãe receba vibrações positivas e informação de qualidade. É comum que ainda na maternidade seja receitado o leite artificial para o bebê. Como isso acontece se ainda não há padrão de crescimento? É comum mais de uma pessoa ensinar sobre a pega. No entanto, existe uma técnica específica. As diretrizes do Hospital Amigo da Criança, da Unicef, são objetivas:
- O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida pode evitar, anualmente, mais de 1,3 milhão de mortes de crianças menores de 5 anos nos países em desenvolvimento (Lancet 2008);
- Os bebês até os seis meses não precisam de chás, sucos, outros leites, nem mesmo de água;
- Após essa idade, deverá ser dada alimentação complementar apropriada, mas a amamentação deve continuar até o segundo ano de vida da criança ou mais;
- O aleitamento materno na primeira hora de vida é importante tanto para o bebê quanto para a mãe, pois, auxilia nas contrações uterinas, diminuindo o risco de hemorragia. E, além das questões de saúde, a amamentação fortalece o vínculo afetivo entre mãe e filho;
- Bebês que são amamentados ficam menos doentes e são mais bem nutridos do que aqueles que ingerem qualquer outro tipo de alimento;
- Quase todas as mães conseguem amamentar com sucesso. Aquelas que não possuem confiança para amamentar precisam do estímulo e do apoio prático do pai da criança, bem como da família e dos amigos. Agentes de saúde, organizações femininas, a mídia e os empregadores também podem oferecer o seu apoio.
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