Muitas tentativas de engravidar e muitos testes negativos depois, você pode começar a pensar que há algum problema com a sua saúde. São muitos os fatores que podem influenciar a concepção de um bebê, de fisiológicos, como a alteração hormonal, por exemplo, a psicológicos. O que nenhum casal quer ouvir é que a infertilidade de um (ou dos dois) está impedindo a gravidez. Mas, se você ouviu que é infértil, certamente já sabe que a reprodução assistida é o caminho para tentar engravidar. Dentro do universo laboratorial de reprodução assistida, há duas maneiras mais populares (não em custo) de se engravidar: a inseminação artificial e a fertilização in vitro.
Na fertilização in vitro, a fecundação acontece em laboratório, após a estimulação ovariana da mulher. Óvulo e espermatozoide são recolhidos e colocados em uma placa de cultivo e, somente após saber quais embriões tiveram o resultado esperado, o óvulo é recolocado na mulher. Na inseminação artificial, o procedimento é diferente, já que o sêmen é colocado dentro do útero. De acordo com a ginecologista e obstetra Juliana Amato, “induz-se a ovulação da mulher com hormônios e controla-se a mesma por meio de ultrassom. No momento da ovulação, o homem colhe o sêmen que será preparado e colocado dentro do útero da mulher por um cateter.” Para casos mais simples de infertilidade, a inseminação é o caminho mais adequado, enquanto a fertilização é um processo mais complexo.
Para realizar a inseminação, a mulher deverá usar uma série de medicamentos para induzir a ovulação com o objetivo de desenvolver três folículos, nos quais estão os óvulos. Quando acontece a ovulação e o sêmen é colocado dentro do útero, os espermatozoides precisam chegar até as tubas uterinas, encontrar os óvulos formados anteriormente, fecundá-los e então formar o embrião. Para casais que possuem alterações hormonais, como ovário policístico, esse é o procedimento mais indicado. Estão fora do grupo, de acordo com Juliana, mulheres com problemas nas trompas e homens com alteração na qualidade espermática, como obstrução tubária e azoospermia.
Mariana* realizou a inseminação artificial duas vezes antes de conseguir um resultado positivo. No caso dela, o tratamento foi realizado em Curitiba e o material da inseminação foi adquirido nos Estados Unidos, pois assim ela teria acesso ao histórico médico do doador que escolheu para usar o sêmen. Nas duas primeiras tentativas, ela usou o material de um doador e em ambas o procedimento não teve sucesso. Na terceira, ela optou por mudar de doador e conseguiu engravidar. “Fiz um ultrassom no primeiro dia do ciclo e iniciei a medicação no terceiro dia (comprimidos e injeções). Continuei fazendo ultrassons para acompanhar a ovulação. Até que no 12º dia do ciclo, tomei uma injeção pra romper o óvulo e dois dias depois fui para Curitiba fazer a inseminação. Entrei no consultório, fizeram mais um ultrassom para confirmar a ovulação, pediram para que eu tomasse bastante água (para que eles conseguissem acompanhar o procedimento, a bexiga precisaria estar cheia). Deitei na maca, inseriram o material genético e eu fiquei 10 minutos deitada aguardando. Basicamente, todas as minhas três inseminações foram assim. Depois do procedimento, precisei usar progesterona via vaginal por 14 dias. Não tive dor, não senti nada... Só a medicação me deixou um pouquinho inchada. Eu comecei a fazer o teste de gravidez nove dias depois da inseminação. Um por dia; os três primeiros deram negativo. O quarto deu uma linha muito suave, repeti, ainda dava suave, mas já tinha certeza que estava positivo. Continuei fazendo os testes de gravidez de farmácia até completar 15 dias. As linhas do teste sempre escureciam. No 15º dia, fui ao laboratório fazer um beta HCG quantitativo. Deu 218. Repeti em 48 horas, aumentou para 588. Mais quatro horas e estava em 1212. Fiz um último teste 48 horas depois e deu mais de 5000. Era certeza que a inseminação tinha dado certo.” Para Mariana, quem faz esse tipo de procedimento sempre tem medo de que algo dê errado. Por isso, ela ficou sem fazer atividades físicas, sem se abaixar, sem dirigir até o quarto mês da gestação. Depois, ela relaxou. “Quando estava no quinto mês, descobrimos uma restrição de crescimento da bebê, uma trombofilia. Entrei em repouso absoluto a passei a fazer ultrassons semanais. A partir do sexto mês, eram dois ultrassons por semana, a fim de acompanhar se a bebê não estava em sofrimento. No sétimo mês tive que interromper a gestação, porque o doppler [exame que avalia o coração do bebê] deu alterado na artéria umbilical dela. Assim, ela nasceu com 1635g e ficou na UTI por 30 dias. Mas agora está tudo bem, ela vai completar quatro meses, está pesando 5 kg e é bem saudável.”
A história de Milena Fernandes (DF), 31, grávida de três meses, foi um pouco diferente, já que ela passou por mais de um método de reprodução assistida e acabou engravidando naturalmente. Após tentar engravidar por dois anos, ela realizou uma série de exame a fim de investigar uma possível infertilidade. Mesmo com o hormônio FHS e o estradiol alterados, tudo estava normal, como ela mesmo diz. Por não conseguir engravidar, seguiu o conselho da ginecologista com a qual se consultava e procurou uma clínica de reprodução assistida para fazer a inseminação artificial, já que Milena e seu esposo faziam agora parte do diagnóstico de infertilidade, ainda que a causa não fosse aparente. Depois de passar por alguns médicos com os quais não se adaptou, Milena procurou por uma nova clínica e lá encontrou um médico que deu mais atenção ao pedido dela de fazer outros exames para investigar as possíveis causas da infertilidade. “Fiz histeroscopia com biópsia do endométrio, refiz exames hormonais, exame do cariótipo, reserva ovariana, tudo que eu podia. Apesar de começar a apresentar uma baixa reserva ovariana para minha idade (30/31), os exames continuavam dentro da normalidade. O que a equipe me explicou era que provavelmente meu organismo estava mais lento, com uma idade biológica maior que a minha idade cronológica. Sem nenhum diagnóstico exato eu poderia optar pela inseminação artificial como tentativa, como uma ajuda e, se fosse algo simples, mas que não pudesse ser identificado nos exames, a inseminação ajudaria. Caso não desse certo, nos prepararíamos para a fertilização in vitro. E assim decidimos, até pela questão do orçamento: na época, R$ 5 mil aproximadamente da inseminação contra 16 mil da fertilização in vitro. Fiz a inseminação em abril de 2016, porém acabei menstruando. Emocionalmente achei que não compensava o desgaste de mais uma inseminação, então começamos a nos preparar para a fertilização in vitro, que não pode ser feita no ciclo logo após a inseminação, pois uma nova norma da ANS [Agência Nacional da Saúde] exigia o exame de sorologia do ZIKA vírus – e até que o resultado ficasse pronto, já teria passado a data de iniciar os hormônios para a FIV [fertilização in vitro]. Ainda bem que eu não fiz, pois no ciclo de espera eu engravidei naturalmente, nos 45 do segundo tempo”.
De acordo com Juliana Amato, há tratamentos adequados para cada tipo de infertilidade feminina. Casos de obstrução tubária podem ser contornados com fertilização in vitro. Casos de endometriose, dependendo do grau de acometimento, podem ser conduzidos com inseminação artificial ou fertilização in vitro. E casos de anovulação, dependendo da causa, podem ser conduzidos com coito programado. “A verdade é que cada caso deve ser avaliado individualmente e indicado o melhor tratamento para o casal. Muitas vezes a dificuldade está em ambos, homem e mulher, ou nenhuma causa é diagnosticada, no caso de esterilidade sem causa aparente”, explica Juliana. A ginecologista ainda relata que fatores como obesidade, tabagismo e consumo de álcool são agentes que prejudicam a tentativa de engravidar. Se de um lado a obesidade provoca alteração hormonal, o tabagismo e o consumo de álcool liberam substâncias tóxicas em nosso organismo e alteram a qualidade e a quantidade de espermatozoides, além de alterarem ciclo menstrual e ovulação, por exemplo. Outro fator que pode contribuir para a infertilidade é o estresse. De acordo com Juliana, o estresse costuma afetar a menstruação e consequentemente a ovulação quando associado a algum problema já existente.
A inseminação artificial é um caminho de reprodução assistida indicado, portanto, para quem está com dificuldade para engravidar (após as tentativas passarem de um ano, para mulheres com até 35 anos) ou com diagnóstico de infertilidade sem causa aparente. De acordo com a legislação brasileira sobre reprodução medicamente assistida, tanto a inseminação quanto a fertilização in vitro são permitidas quando houver diagnóstico da infertilidade, alteração no muco cervical da mulher, incapacidade ovulatória, baixa qualidade de espermatozoides ou não produção deles, casais afetados por doenças graves que não queiram transmitir a doença, pacientes que se encontram tratamento de doença grave, casos de transmissão de doença de origem genética. A doação de sêmen não é regulamentada por uma legislação brasileira. Somente as normas éticas sobre a utilização das técnicas de reprodução assistida são administradas pelo Conselho Federal de Medicina. Segundo resolução do órgão, o comércio de gametas é proibido e as doações de sêmen não podem ser remuneradas.
Optou por fazer a inseminação? Primeiro passo: converse com um profissional sobre qual clínica buscar e custos, que variam de acordo com a cidade na qual a clínica está instalada. E, em seguida, se prepare física e psicologicamente para todo o procedimento – aqui, fica a dica, o diálogo entre o casal é essencial para que todo o processo transcorra bem. Quando estiver preparada, lembra-se de que, para a inseminação artificial, sua ovulação será sua melhor amiga. Aliás, você sabe se está ovulando ou não?
*Nome trocado a pedido da entrevistada.
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