Tente engravidar várias vezes. Sem sucesso, é possível que você comece a desconfiar da sua saúde. Será que está tudo bem? Será que não tem algo fora do padrão que possa estar impedindo a concepção? De fisiológicos a psicológicos, muitos fatores podem atrapalhar a chance da gravidez. Por isso, conhecer alguns deles pode ajudar a entender mais sobre o complexo corpo feminino e entender por que os hormônios influenciam tanto o organismo da mulher. Entre as alterações hormonais mais comuns que podem dificultar a gravidez estão a Síndrome do Ovário Policístico (SOP), que atinge cerca de 7% das mulheres, segundo o Serviço de Endocrinologia do Hospital das Clínicas de São Paulo; a Endometriose, que afeta cerca de sete milhões de brasileiras, de acordo com a Associação Brasileira de Endometriose e Ginecologia; alterações na tireoide, que além de alterar o metabolismo, atinge diretamente os hormônios envolvidos na gestação; e a hipófise, cuja alteração está diretamente relacionada às nossas emoções.
Endometriose
Djinane Spinosa (SP), 39, mãe de Alice, de três anos e três meses, tem endometriose desde os 17 anos. “Já fiz vários tratamentos para a doença e acompanhei a mesma desde sempre. Tentei engravidar por 3 anos, por vias normais, e nada. Fiz exames que detectaram obstrução parcial das trompas bilateralmente, e foram propostas duas opções: operar e tentar novamente por vias normais (que para mim não funcionaria, já que eu ficaria estressada com as ‘tentativas’) ou fazer fertilização in vitro (FIV). Optamos pela segunda opção. Porém, durante o complemento de exames para FIV, detectaram também anticorpos que propiciavam trombose e aborto. Fiz a FIV. Foram colocados dois embriões, que se desenvolveram até a 4ª semana. Após esse período, um deles parou de se desenvolver e segui com a gestação única. Usei uma série de medicações durante toda a gestação, incluindo injeções diárias para evitar trombose. Minha pequena nasceu de 38+3 [38 semanas e 3 dias], cesariana, devido a um sangramento por descolamento parcial de placenta.”
A endometriose pode dificultar a gravidez por estar relacionada com fatores imunológicos e inflamatórios que tornam o ambiente uterino não propicio a gravidez e também podem causar aderências dentro do abdome e possível obstrução das trompas. É o que afirma Juliana Lelis Spirandeli Amato (SP), 39, ginecologista e obstetra com pós-graduação em Reprodução assistida, da Amato Instituto de Medicina Avançada, mãe de um casal, de 5 e 3 anos de idade. “A endometriose é uma doença caracterizada pela presença do endométrio, que é o tecido que reveste o útero por dentro, fora da cavidade uterina, ou seja, no abdome. A indicação do tratamento depende muito do grau de acometimento da endometriose. Tem a endometriose grau leve, a moderada e a grave e só o médico é capaz de avaliar se há indicação de tratamento de reprodução assistida e qual método é o mais indicado (inseminação artificial, coito programado ou fertilização in vitro).” Além dos fatores imunológicos e inflamatórios, a endometriose é nutrida pelo hormônio estrogênio. “Sendo assim, mulheres que têm a doença fazem o tratamento e a prevenção com a suspensão dos ciclos menstruais.”
Síndrome dos Ovários Policísticos
A menarca de Amanda Oliveira (RJ), 35, mãe dos gêmeos Joaquim e Benjamin, de três meses, aconteceu aos 13 anos de idade. “Logo percebi que não estava tudo normal com meu corpo, pois chegava a ficar quatro meses sem menstruar. Desde a adolescência, tenho problemas com a balança, acne, excesso de pelos, alterações no humor. Todas essas são características da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP). Numa ida à ginecologista, por volta dos meus 20 anos, foi pedido um ultrassom que fechou o diagnóstico para SOP. Para que a menstruação ficasse com o ciclo regular, eu teria que tomar anticoncepcional direto. E assim fiz, com algumas fases sem tomar, para desintoxicar o corpo e ver como ele estava trabalhando sem a ajuda do hormônio. Percebia que o ciclo continuava sem regularidade, mas com menos intervalos. Lendo sobre o assunto, vi que poderia ter dificuldades para engravidar, mas a ginecologista, com quem estou desde 2005, nunca me desanimou e sempre me disse que tinha muitos casos de sucesso para engravidar entre suas pacientes. Confiei muito nela e passei a ter esse pensamento positivo, que essa dificuldade não ocorreria comigo. Quatro meses antes do meu casamento, em novembro de 2014, já parei com o anticoncepcional de vez, com objetivo de engravidar logo após o casamento. Eu já estava com 34 anos na época, e acima dos 35 as coisas se tornam teoricamente mais difíceis para quem quer engravidar. Logo no terceiro mês de tentativa, eu tive meu positivo, que veio até de surpresa, pois nem com meu otimismo imaginava que engravidaria tão rápido. E pra completar a nossa alegria, eram gêmeos, quanta bênção! Tenho histórico na família, mas também foi uma grande e feliz surpresa para nós. A gravidez foi supertranquila. Os bebês nasceram saudáveis, com 38 semanas e 3 kg cada um. Hoje, estão com 3 meses e amamento os dois exclusivamente no peito, outro sonho que estou conseguindo realizar. Em breve, vou voltar a me consultar e vou querer saber como estão meus ovários policísticos, afinal, não paramos nos gêmeos. Queremos pelo menos mais um bebê daqui a uns quatro anos. Aí, sim, a família estará completa.”
A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é uma disfunção que provoca alteração dos níveis hormonais, provocando a formação de pequenos cistos nos ovários, fazendo com que eles aumentem de tamanho. Segundo Juliana, a síndrome “impede que a ovulação ocorra todos os meses por um desequilíbrio hormonal e pela formação dos cistos. Quem tem esta síndrome ovula menos vezes ao ano e tem ciclos irregulares. Dependendo do grau da doença não impede a gravidez natural, mas a dificulta.” É importante estar atenta aos sinais do seu organismo, já que a SOP é caracterizada por aumento de pelos no rosto e na púbis, aumento de peso, queda de cabelos, pele oleosa , com mais cravos e espinhas, e manchas na pele. Se você já pariu, como Amanda, também é importante estar atenta. “A síndrome pode ser controlada com medicações e após o parto é possível que os sintomas reapareçam e seja necessário tratamento”, completa Juliana.
Tireoide
Gabriela Lopes (SP), 24, mãe de Helena, três meses, descobriu que tinha hipotireoidismo em 2011, após perceber mudanças ao longo de quatro meses (desmaios e 12 kg extras devido ao nível baixo dos hormônios TSH e T4). “Faço reposição hormonal desde então. Em 2013, nos exames de rotina com a ginecologista, minhas taxas de androstenediona (hormônio responsável pelo meu SOP) subiram misteriosamente. Fiz tratamento com diversos anticoncepcionais diferentes e nenhum baixou a taxa do hormônio. No fim de 2014, abandonei as pílulas e resolvi procurar um endocrinologista para saber sobre esse hormônio e comecei um novo tratamento. Nem isso baixou minha taxa. Nesse meio tempo, tanto no acompanhamento do endocrinologista e da ginecologista, ambos falavam que com a taxa alta do SOP e com meu hipotireoidismo, seria impossível engravidar. Só que no Carnaval de 2015 veio a surpresa, que se chama Helena.”
A alteração na tireoide pode dificultar a gravidez, apesar da Gabriela, já diagnosticada com SOP, não ter tido nenhum impedimento aparente. Os hormônios relacionados à tireoide e à fertilidade são TSH, T4, estrogênio e prolactina que, atuantes nos ovários, podem alterar a ovulação e duração de ciclos menstruais dificultando a gravidez, de acordo com Juliana Amato. Para se prevenir de qualquer alteração antes de engravidar, é importante “fazer exames de rotina periodicamente e ter um acompanhamento com endocrinologista, que irá avaliar a melhor medicação e a dosagem em cada caso”, completa Juliana.
Para Carol Travassos (SP), 37, mãe de Caio e Rafaela, 12 e um ano, respectivamente, a disfunção foi um pouco diferente. Isso porque aos 21 anos ela foi diagnosticada com um carcinoma (tipo de câncer) na tireoide. “Fui indicada pra retirada do nódulo, mas o endocrinologista e cirurgião disse que estava enraizado e com bócio (não detectado em nenhum exame pré-operatório), por isso optou pela tireoidectomia total. Fiz alguns tratamentos com iodo radioativo, antes e após a cirurgia. Fiquei 20 dias sem hormônios também. Na alta pós-cirúrgica, o endocrinologista me questionou se eu pretendia ser mãe. Eu disse que sim. Ele reforçou que eu deveria procurar antecipadamente um GO [ginecologista-obstetra], pois seria necessário tratamento para engravidar. Bom, claro que isso me chocou. Eu tinha quase 23 anos nessa época e estava num relacionamento estável pensando sim e filhos. E aí, uns 10 meses depois eu engravidei. Sem tratamento nenhum. Lembro-me da cara de espanto do GO que fez o meu pré-natal: ele achava praticamente um milagre eu ter engravidado. Tive acompanhamento dos níveis hormonais a cada mês, com endocrinologista acompanhando também. A gravidez foi tranquila, engordei 11 kg apenas. Fiz cesárea por imaturidade. Por acreditar na ‘fofura’ do GO que me "protegia". Não amamentei mais do que quatro meses, por achar que não tinha leite. Doze anos depois, tive outra gravidez. Também não fiz tratamento. Faço apenas o uso contínuo de hormônio sintético. A segunda gravidez foi normal, nessa o GO não deu muita atenção pra essa reposição hormonal, apenas acompanhou trimestralmente o nível, ajustando a dose se necessário. Não tive endocrinologista acompanhando. Engordei 9 kg. Tentei parto normal, mas fui pra cesárea. Amamento sem problemas também.”
Ansiedade
O que realmente atrapalhou Priscilla (RJ), 29, mãe de Letícia, um ano e seis meses, foi a ansiedade. “Tinha dias que eu tinha muito apetite tinha dias que não tinha, tive distúrbios no sono, alteração de humor, tinha dias que eu ficava muito agitada também, pensando ‘nossa daqui a pouco vou fazer 30 anos e vai ficar mais difícil, vou ter que correr contra o tempo’. Meu marido também ficou bastante ansioso e todo mundo reparava isso nele. E eu tentava mostrar para as pessoas que eu estava mais tranquila do que ele, mas eu não estava. Fizemos todos os exames e nada foi constatado. A minha psicóloga falou que estávamos ansiosos e que isso atrapalhava os dois. Quando esquecemos (ou melhor, focamos em outras coisas), descobri a gravidez. Foram 4 anos nessa ansiedade. Mas, o que a ansiedade tem a ver com hormônios? Na verdade, a ansiedade (assim como o estresse, a alegria, a euforia) é uma emoção relacionada à glândula hipófise, localizada no hipotálamo, no cérebro. A hipófise também secreta uma série de hormônios relacionados à ovulação feminina e à produção de espermatozoides e, ainda, a ocitocina, conhecida como o hormônio do amor – e também secreta os hormônios ligados a tireoide. Por isso, deixar-se entregar à ansiedade pode reduzir as chances de engravidar. O ideal a se fazer é não se pressionar, buscar manter relação sexual com amor, tranquilidade e sem pensar se vai engravidar ou não.
O que fazer?
Os hormônios estão diretamente ligados ao nosso sistema nervoso e, consequentemente, às nossas emoções. Engravidar pode até requerer certo planejamento, mas contar os dias para fazer sexo e saber se engravidou ou não pode ser estressante. Por que, não, buscar outras abordagens? Realizar exames periodicamente, mudar a sua alimentação (uma alimentação saudável pode ajudar, e muito) são os primeiros passos para engravidar. E, claro, muito sexo (veja abaixo).
Quer engravidar? Pratique nessas posições!
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