Parir não é uma ciência exata. O ato de parir, de trazer para o mundo um novo ser, não está documentado em metanálises que determinem um padrão que predetermine como todo parto deve acontecer e como toda mulher deve sentir. Por ser um processo que inclui o sentir, uma transformação física e também psíquica, tudo o que se refere a parir na literatura médica serve como referência para compreender o contexto, as fases do trabalho de parto, as características de cada etapa, como são as contrações do trabalho de parto, imprescindíveis para que o trabalho de parto aconteça. São elas, aliás, as grandes aliadas tanto da mulher quanto da equipe médica para se identificar a fase do trabalho de parto – e se de fato a mulher está em TP.
A contração é contratura muscular da musculatura do útero e pode ser mediada tanto pela prostaglandina quanto pela ocitocina, depende da fase de trabalho de parto em que a mulher está, é o que explica a ginecologista-obstetra Ana Thais Vargas (SP), 38. De acordo com Ana Thais, “no primeiro momento do trabalho de parto, que são os pródomos, a fase inicial do TP, e na fase latente do trabalho de parto, as contrações são mediadas pela prostaglandina. Entre seis e sete centímetros de dilatação se inicia a fase ativa do trabalho de parto, momento em que a contração passa a ser mediada por ocitocina”.
A contração é um dos mistérios da gestação. Primeiro, porque o que se configura como parto no imaginário popular é uma combinação de dor, suor, dor, equipe médica citando palavras de incentivo e ordem, dor, suor, e um bebê saindo com uma mãe cansada. Claro, parir é cansativo. Segundo, porque a sensação de dor varia de mulher para mulher. Cada nascimento é único, assim com cada parto. Por isso, considerar que toda e qualquer mulher vai sentir a famigerada dor do parto da mesma maneira é ingenuidade. Se parir não é ciência exata, não segue um padrão.
Desmistificando a contração
A contração dói? Sim e não. Para algumas mulheres, as contrações da fase latente são insuportáveis; para outras, imperceptíveis. Por isso, a ideia de que as contrações significam sentir uma dor insuportável (e que isso faz parte do pacote “fez, agora aguenta”, reprodução chula de um machismo estrutural que agoniza) precisa ser desconstruída. Vamos juntas?
1. Como as contrações acontecem?
Todo o abdome e o útero da mulher se enrijecem, mas há várias formas de sentir: pode ser uma dor que se inicia no baixo ventre e se irradia para as costas; ou pode começar nas costas e se irradiar para o ventre. E tem mulheres que sentem dor no abdome todo, no útero inteiro, com a barriga ficando dura. A mulher também pode sentir uma dor de preenchimento quando a cabeça do bebê começa a encaixar na pelve.
2. Sempre é com dor?
Nem toda mulher vai sentir dor durante a contração. “Então, algumas contrações que para o obstetra podem ser leves, para algumas mulheres será de muita dor e para outras as contrações da fase ativa, por exemplo, que são intensas e vigorosas, são facilmente suportáveis”. Não sentir muita dor significa que não estou em trabalho de parto? Não. O contexto da contração vai indicar, porque as contrações de trabalho de parto têm ritmo e dor. Ainda que sejam as contrações dos pródomos, com ritmo mais fraco, e que a dor seja mais fraca.
3. As contrações de treino são inocentes
De acordo com Ana Thais, as contrações de treino, chamadas de Braxton-Hicks, são indolores, não têm ritmo e não tem tempo de duração significativo, pois podem durar segundos ou até dois minutos. O que as define como de treinamento? Não doem, mas causam incômodo. E principalmente: não acionam o colo do útero: nem o afinam e nem o dilatam.
4. Contrações dos pródomos e da fase latente
Durante os pródomos, as contrações são desorganizadas e duram pouco tempo, em média de 20 a 30 segundos e acontecem em intervalos irregulares. Podem acontecer em 20 minutos, novamente em oito minutos, novamente em 15 minutos. As contrações da fase latente (até seis centímetros de dilatação) têm ritmo, apesar de ainda terem intervalos longos e terem duração média de 40 segundos. Como identificar se você está nessa fase? “Nessa fase, a mulher ainda conversa. Ela está sentindo dor, ela está um pouco cansada, mas ela ainda conversa e se comunica, ainda responde às perguntas. Na fase latente do trabalho de parto, os intervalos entre as contrações são longos, entre sete e oito minutos, mas elas já são ritmadas, pois seguem um padrão, e passam a durar mais tempo, por volta de 40 segundos”, explica Ana Thais.
5. Contrações da fase ativa: praticamente sem intervalos
A contração da fase ativa é intensa, longa e vigorosa. “A mulher começa a não se comunicar com quem está por perto. Ela para de conseguir responder as perguntas e por vezes para de pensar. Ela entra no que se chama de partolândia, uma espécie de transe. A dor é de forte intensidade, e o transe coloca seu objetivo, irracional, em outro local. Ela sai um pouco do convívio e para de se comunicar. É aí que, do lado de fora, sem toque, sem mais exames, que se vê se a mulher está realmente na fase ativa”, diz Ana. Na fase ativa, a mulher começa a sentir mais dor porque o bebê começa a encaixar na pelve, o que começa a acontecer entre seis e sete centímetros de dilatação - um dos motivos para a dor aumentar em intensidade. Na fase ativa do trabalho de parto, as contrações começam a durar de 50 segundos a um minuto, podendo passar um pouco. Suas características principais são: aumentar tanto em intensidade quanto em duração.
6. O expulsivo: bebê na pelve com contrações espaçadas
Durante o expulsivo, uma das últimas fases do TP, as contrações não acabam, mas espaçam e voltam a ser como as da fase latente, entre sete e oito minutos – dessa vez, entre contrações vigorosas. “O que acaba é o ritmo acelerado de contrações quase sem intervalo. No expulsivo, normalmente a mulher não para de sentir dor, mas ela começa a ter outras sensações: a sensação da cabeça entrando na pelve e realmente descendo para a vagina”, explica Ana Thais. O tempo de duração do expulsivo varia de acordo com a paridade da mulher. Mulheres que já tiveram parto normal têm expulsivos muito mais rápidos, de meia hora, quarenta minutos. E mulheres que nunca tiveram filhos, primigestas, podem ter até quatro horas de expulsivo. “Só que essa não é uma ciência exata, e não há nenhum trabalho na literatura médica que obrigue o obstetra a seguir um tempo pretederminado para o expulsivo. Há o consenso de que uma primigesta não deveria ultrapassar o tempo total de quatro horas de expulsivo com dilatação total sem o bebê nascer. Mas a gente considera que se o bebê está descendo, ainda que devagar, a mulher está tendo um expulsivo prolongado. Se o bebê estiver em boas condições, com bom ritmo cardíaco e boa ausculta cardíaca-fetal, pode-se prosseguir o parto sempre se certificando do bem-estar fetal”, diz Ana.
7. E se as contrações vierem antes do esperado?
Em caso de a mulher sentir contrações ritmadas e intensas de TP em pré-termo (abaixo de 37 semanas), o primeiro passo é entrar em contato com o obstetra ou ir diretamente para o pronto-socorro. Um trabalho de parto prematuro pode ser parado, e deve ser medicado. A paciente provavelmente vai precisar receber antibiótico e a parturiente vai precisar realizar alguns exames para que se possa ver porque essa mulher está em TP prematuro. Como funciona o tempo gestacional? Abaixo de 37 semanas, o bebê é considerado pré-termo, ou seja, ainda não está completamente maduro sob várias perspectivas médicas. Entre 37 e 40 semanas (completas), o bebê é considerado a termo. Nesse sentido, cada bebê fica maduro a seu tempo. Entre 41 e 42 semanas, completas, o bebê é considerado pós-termo. No Brasil, a prática obstétrica recomenda que o parto seja induzido a partir das 42 semanas, considerado de modo geral o tempo máximo. Há países europeus que adotam a medida de até 44 semanas.
O tempo do trabalho de parto: em quanto tempo vou parir?
Normalmente, nas primigestas não é possível ver quanto tempo vai durar o trabalho de parto. O que se sabe é que na segunda gestação, se a mulher já passou por um parto normal, a tendência é que ele seja mais rápido e descomplicado, porque o corpo precisa de menos para atingir o mesmo objetivo. “E, sim, uma mulher que teve três filhos de parto normal, vai parir o quarto bem mais rápido que a primigesta. Na verdade, a dilatação da multípara (mulheres com mais de dois filhos) acontece de modo muito diferente da primípara (a primigesta), que tem primeiro um afinamento do colo do útero para depois se iniciar a abertura. A multípara afina e dilata ao mesmo tempo. E aquela pelve já foi testada, ela já tem mais espaço para o bebê. Algumas mulheres precisam de quatro horas para parir. Algumas, de 24 horas. E não há nada de errado entre elas. Elas precisam ser respeitadas em seus tempos. No tempo que vai ser necessário para que elas alcancem o objetivo. Já foi tentado que o tempo do trabalho de parto fosse documentado, mas depende muito”.
Portanto, é improvável que a equipe médica responda com certeza o tempo que a mulher vai levar para parir. É possível acompanhar o desenvolvimento do parto a partir de alguns sinais da mulher e de ferramentas que contribuem para a avaliação do seu desenvolvimento. Sabe-se também que o parto em fase ativa de uma primigesta pode durar, em média, de 12 a 18 horas. Isso significa que você, leitora, vai parir em 12 horas? Não. “Já vi casos de primigestas que tiveram primeiros partos rápidos e segundos partos bem complexos. O parto não é só um evento corporal, é também psíquico. E se essa mulher estiver com medo, julgando que está sob algum risco e julgando que não está confortável, o parto pode, sim, ser atrapalhado pelo estresse do momento”, explica Ana Thais.
Combater o medo do parto não é tarefa simples, principalmente em uma estrutura social que corrompe diariamente o ser feminino sob várias óticas: sexual, profissional, acadêmico, familiar e individual. Informar-se sobre o que se entende sobre parto no cenário obstétrico brasileiros, as vertentes de atendimento, as estruturas disponíveis de assistência, os protocolos e as intervenções de rotina, a história do parto no Brasil e compreender a fisiologia do parto natural são formas de desmistificar a ideia de dor (e, talvez, tentar lidar com ela quando for necessário).
O que mais é importante saber sobre trabalho de parto e contrações?
Os aplicativos de contrações são excelentes alternativas para a equipe estabelecer junto com a mulher em qual fase do trabalho de parto ela está. Nos pródomos e na fase latente, porém, não vale a pena monitorar ininterruptamente, principalmente porque as contrações tem características específicas e isso pode causar (mais) ansiedade para a parturiente – a ansiedade libera adrenalina, hormônio que bloqueia a ocitocina, essencial para o desenvolvimento do parto.
Perder o tampão mucoso significa necessariamente que o parto vai começar? Não. “A perda do tampão mucoso é apenas do tampão mucoso e não indica começo do trabalho de parto. Ele cai por inúmeros motivos, e representa o início de uma pequena dilatação do colo do útero. Ele pode se refazer e isso não significa que o TP está próximo. Há mulheres que passaram por todo o trabalho de parto sem perder o tampão”, explica Ana Thais.
O uso do partograma é uma maneira de colocar em um gráfico o tempo do trabalho de parto, tornando mais fácil compreender suas fases. “Há dois modelos: o mais antigo, da década de 1950, que é desatualizado com o que se sabe hoje sobre trabalho de parto. Há hoje um partograma proposto por Zhang, que leva em consideração a paridade, o tempo e a intensidade da contração, quantos filhos a mulher tem e com quantos centímetros ele está sendo iniciado. Porque se você abrir com cinco centímetros, há uma evolução. Se abrir com oito, será outra. Ele também leva em consideração os platôs de parada e as mudanças de fase do trabalho de parto”, explica Thais.
Quer saber mais sobre contrações? Relatos de quem já sentiu
“Às 23h, minha bolsa estourou para fora e imediatamente comecei a sentir as contrações. Aí as contrações eram mais doloridas e incômodas. Era difícil achar posição para ficar e nem sempre a dor passava entre uma e outra. Bem desconfortável, mas OK. Fomos assim até umas sete horas da manhã. O cansaço me maltratou. Eu cochilava entre as contrações. Passei a maior parte do tempo de pé, não conseguia sentar, só na bola um pouquinho. Cama: fiquei por uns 10 minutos e foi péssimo. Não sei dizer a fase latente quanto durou, mas desde que engrenou até o expulsivo acho que foram seis ou sete horas. Mais três ou quatro de expulsivo. Neném nasceu as 10h. Em momento nenhum eu pensei em analgesia durante o parto. O lance é forte, é animal, é vida, é sangue e água e coco. Mas analgesia eu não pensei. Portanto, eu não indico analgesia, acho que a água quente, procurar posições e uma equipe amorosa é tudo que precisamos. Para quem tem medo da dor do parto eu diria para preparar a cabeça. Descobrir seus medos, seus porquês, e confiar em si própria”.
Louise Ribeiro (SP), 32 mãe de Violeta, seis meses
“Demorei para ligar para minha equipe de parto porque não tinha certeza se era dor do parto. Só tive certeza quando veio a primeira contração dolorida e percebi que estava chegando a hora. É uma sensação que não dá para confundir. Entre as contrações eu descansei, conversei, falei, telefonei e até dei instruções para a equipe. Senti dor, mas digo que até menor do que as cólicas renais que tive meses antes. Meus pródromos devem ter durado o dia inteiro sem que eu percebesse, mas a fase ativa durou menos de 6 horas e o expulsivo perto de 30 minutos. Não tive nenhum tipo de intervenção ou analgesia. Apenas busquei o local e a posição que me deixaram mais confortável, que foi na água, na banheira. Minha doula ainda ficou jogando água nas minhas costas. Minha bolsa estourou apenas 15 minutos antes do Bento nascer. Em caso de dor, grite, cante abrace, mergulhe no trabalho de parto, e foque no mantra: bebês sabem nascer, mulheres sabem parir”.
Sílvia Spinola (SP), 36 anos, mãe do Bento, nove meses.
Eu tive contrações de treinamento algumas semanas antes do parto, mas senti que as dores eram as contrações do trabalho de parto porque elas estavam muito ritmadas, tipo relógio suíço. Começaram a cada 15 minutos e foram diminuindo de intervalo. Também tive perda do tampão logo que elas se iniciaram. O parto é a experiência muito particular de cada mulher, pois cada pessoa tem um limiar em relação à dor. Entretanto, eu penso que é melhor tomar analgesia para conseguir um parto normal do que partir para uma cesárea. Não usei nada, meu parto foi totalmente natural. Durante as contrações recebi massagem e compressas quentes na lombar, o que ajudou muito a aliviar a dor. Tão importante quanto se preparar fisicamente para o parto é se preparar psicologicamente. Quando a dor vem, é preciso ter foco, pois ela vem e vai, e cada contração é uma a menos e significa o seu bebê mais perto. Confie no seu instinto, e lembre-se que parir é natural. Tempos do parto: fase latente, 15 horas; fase ativa, sete horas; e expulsivo, uma hora”.
Flávia Fuini Miyazaki (SP), 32, mãe de Renzo, seis meses.
“Senti as dores. Começaram suaves e foram ficando mais intensas com o tempo. Mas a dor em si (pelo menos para mim) lembra muito uma mistura de cólica menstrual com intestinal. Parece que você comeu alguma coisa que não fez bem e está com dor de barriga. Eu não consigo distinguir quanto tempo durou a fase latente, dois dias antes de entrar em trabalho de parto sentia cólicas que vinham e iam, mas não estava regular e era bem fraco, conforme mudava de posição, tomasse um banho a dor melhorava, então sabia que não era trabalho de parto ainda. O trabalho de parto ativo começou duas horas depois que a bolsa estourou, e já começou com contrações de três em três minutos. Durou 10 horas. O expulsivo durou mais ou menos 40 minutos. Acredito que cada mulher conhece seu limite. Já li muitos relatos de mulheres que não aguentavam mais e a analgesia ‘salvou’ o parto normal. No meu caso, cheguei a pensar em analgesia em um determinado momento (fase de transição), duvidei que aguentaria, pois a dor estava realmente bem forte, para mim estava chegando no meu limite ali. Até que relatei para a obstetriz e ela falou que se estava sentindo isso era porque estava chegando no final, pois já estava até com vontade de fazer força. Mesmo assim ela falou que se eu quisesse era só pedir. Passado esse momento e sabendo que faltava pouco resolvi não pedir analgesia, entrei no expulsivo e pari! Eu sempre acreditei que sou uma pessoa fraca para a dor, sou daquelas que pede analgésico para fazer sobrancelha e peço anestesia geral (se possível fosse) para obturar um dente, duvidava se conseguiria, mas o trabalho de parto é uma situação totalmente diferente de tudo que havia passado. As contrações vêm e vão, não é uma dor que não para, é seu próprio corpo produzindo, a natureza não vai fazer você sentir algo que não suporta. Está aí a importância de você estar em um ambiente que se sente segura, com uma boa equipe alinhada com suas vontades, que respeitem a fisiologia do parto e, claro, que você confie, pois caso precise de alguma intervenção eles indicarão e será de real necessidade. Outro ponto que me ajudou muito foi ler sobre as fases do trabalho de parto, compreender o que estava passando naquele momento e seguir o mantra ‘vai passar’a cada contração, focando na respiração, respirando bem fundo, pois sabia que aquela contração logo passaria e descansaria para a próxima, até minha filha estar nos meus braços. Dor é diferente de sofrimento. Doeu? Doeu! Mas não sofri em nenhum momento. Inclusive sinto saudades de todo o trabalho de parto e faria tudo de novo! Se fosse tão ruim acho que não iria querer de novo, né?!”
Ana Carolina Sobral Dermendjian (SP), 33, mãe de Liz, 13 meses.
“Como eu já havia tido um parto anterior eu não demorei muito para perceber que as contrações haviam começado. Diferente do primeiro parto (que as contrações doíam nas costas), dessa vez as contrações eram como cólicas. No início eram muito fracas, porém ritmadas a cada dez minutos. Com o passar das horas, a dor deu uma leve aumentada, mas nada desesperador. É importante pesquisar e se informar bastante e buscar apoio com uma doula. Eu não tive doula, mas me informei o máximo que eu pude e tive a certeza que diferente do primeiro parto, dessa vez eu estava preparada. Tempos do parto: fase latente, sete horas; fase ativa, duas horas; e expulsivo, 13 minutos”.
Natalia Miranda Belato (Londres), 23, mãe de Victor, seis meses.
“Acordei às oito horas com pequenas pontadas nas costas. Levantei, tomei banho, me arrumei, chamei marido e fomos para o hospital. O trabalho de parto estava começando! Dores como cólica, dores que vinham das costas e irradiavam para as pernas. Continuei caminhando no hospital! Dores mais intensas, já estava há cerca de três horas em trabalho de parto, ainda na fase latente. Fui para o chuveiro. Elas intensificaram mais. Pedi banheira. Fui para a banheira e lá entrei na fase ativa. Não tinha posição: tentei sentada, de lado, de quatro. As dores estavam realmente fortes e eu tentava me concentrar! Não conseguia, então eu verbalizava! Com a ajuda do marido que estava dentro da banheira comigo, minha mãe, doula e enfermeira. Ninguém mais tocou em mim além deles! Pedi para sair, pedi para deitar, não tinha posição, tinha enjoo. Comecei a perder o foco! Mordi a enfermeira várias vezes, pedia ajuda, gritava muito! Muito! Perdi praticamente os sentidos. Pedi anestesia! Não tomei, a doula e a enfermeira me encorajaram! Dormia entre as contrações, dormia mesmo, lembro-me dos sonhos! Porém, contrações de um minuto com intervalos de 30 segundos: 7 cm, 8 cm, 9 cm... Partolândia! A dor da contração mudou, era quente, queimava, queria sair! Queria expulsar! Vai nascer! Pedia anestesia insistentemente, doula e enfermeira me ajudando, comecei a fazer força, não conseguia, perdia o sentido, pedia anestesia, gritava muito. Expulsivo! Vamos fazer mais força, coroou! Vai nascer! Eu o jogava de volta para dentro, estava fora de mim. Eu sonhava, via coisas, chorava, chamava por ele, e pedia anestesia. As contrações duravam muito mais que os intervalos, eu estava muito cansada. Pedi, insisti, implorei. Tomei analgesia. Pouco, mas tomei! E para mim, foi ótimo! Óbvio que eu sempre sonhei em um parto natural, me preparei, mas me rendi. O que indico? Passe pela dor! Cada mulher enfrenta de uma maneira, cada parto é um parto. Sempre recomendo uma equipe de fato humanizada, indico às gestantes estudarem, indico doula, enfermeira, indico um plano de parto estruturado”.
Marilia Ferragut (SP), 34, mãe de Antônio, dois anos e quatro meses.
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