O que toda mãe mais quer? Que seu filho coma bem. Que ele opte por alimentos saudáveis e que sua alimentação seja composta de verduras, legumes e frutas, ainda que isso signifique precisar comer regularmente brócolis e espinafre. Aliás, você come esses dois alimentos? Se não, por que espera que seu filho coma? Apenas por que são saudáveis? A alimentação infantil causa muita discussão dentro e fora de casa, seja no debate acalorado sobre dar ou não couve-flor para a criança, seja para discutir a real necessidade em dar industrializados em excesso para os pequenos. Se você acha que seu filho come pouco e que ele precisa comer bem, seja qual for a idade dele, o taofeminino elaborou uma lista com dicas para ajudar você, mãe, ao tão famigerado pódio do “meu filho come bem”, baseada nos conselhos do livro Meu Filho Não Come, do pediatra Carlos González.
1. Ele precisa comer para crescer
Não é bem assim. Na verdade, nós comemos porque estamos crescendo. A regra também vale para bebês e crianças. Segundo González, crianças de um ano a seis anos, por exemplo, crescem mais lentamente do que crianças de seis meses ou doze anos, que estão em crescimento mais rápido. Pergunta rápida: quem vai comer mais?
2. Ele parou de comer
Tem certeza? Em relação a adultos, por exemplo, os bebês comem muito mais. Isso quer dizer que no processo de crescimento, de modo geral, em algum momento eles vão passar a comer menos. É normal que a velocidade de crescimento diminua a partir de um ano de idade. Como salienta González, “no primeiro ano, os bebês engordam e crescem mais rapidamente do que em qualquer outra época da vida extrauterina”. Ele parou de comer ou ele mudou o padrão de alimentação?
3. Alimentação precisa ser balanceada até nos vegetais
Crianças pequenas têm estômago pequeno e por isso precisam de alimentos com alta concentração calórica. Manter uma dieta com legumes e tubérculos em excesso não é o caminho, já que esses alimentos possuem muitas fibras e poucas calorias – e o estômago do bebê não suporta receber a quantidade necessária para engordar.
4. O padrão de crescimento varia de criança para criança
O mais frequente é que uma criança entre quatro e oito meses cresça – bastante. Se isso não acontecer, como explica González, é importante avaliar se há alguma patologia. Se não tiver, mãe, espere. Cada criança cresce seguindo um padrão. Nem sempre seu filho se encaixará na maioria, por isso, não é recomendado exigir que ele coma mais. Importante lembrar: “muitas mães esperam que seus filhos comam mais que o dobro do que eles comem normalmente. Ninguém pode comer todos os dias o dobro do que precisa e continuar sadio”.
5. Seu filho sabe do que precisa
Nós comemos o que precisamos e em quantidade adequada para nossas necessidades. Certo? Seu filho também. Se se deixar uma criança comer o que quiser, ela vai comer o que precisa (cientificamente comprovado: as crianças formam seu paladar com uma dieta que muda a composição do leite materno, desde recém-nascidos). Por isso, oferecer alimentos adequados e saudáveis para a criança é essencial. Se você oferecer alimentos processados e industrializados e açúcares em excesso, é o que ela vai comer. E a alimentação familiar entra em jogo: se você oferece alimentos saudáveis para seu filho, mas opta por alimentos processados e industrializados, pode acreditar, com o tempo, ele fará as mesmas escolhas que você.
6. Responsabilidade da alimentação não é só dos pais
Antes de qualquer coisa, não, mãe, você não tem culpa. Tem responsabilidade sobre a alimentação do seu filho, mas você não é a única. Pode ser, sim, a principal e a primeira, mas a influência dos familiares, profissionais de saúde, educação e amigos da escola determina muito sobre como seu filho vai formar a dieta dele. A máxima “é preciso uma aldeia para criar uma criança” faz mais sentido ainda quando se fala em alimentação. González atenta para um ponto importante: “Veja a publicidade: quanto mais insalubre for um alimento, mais ele tem que ser anunciado. Salgadinhos, doces, refrescos... Algumas marcas, que já vendem milhões, continuam fazendo propaganda diariamente. Sabem que não podem descansar nem um momento porque, se não anunciassem, as vendas cairiam espetacularmente”. Os brócolis da feira de sexta-feira pareceu mais interessante agora, não?
7. Dieta equilibrada a longo prazo
Você come os mesmos alimentos na mesma quantidade nutricional diariamente? Por que espera, então, que seu filho o faça? Ele ainda está aprendendo a formar seu paladar e a balancear sua dieta. De acordo com especialistas, com a condição de que seu filho receba uma oferta de alimentos saudáveis a sua escolha, a longo prazo, sim, ele terá uma dieta adequada. Mas, como explica González, “pode ser que passe dois dias só com ervilhas e depois um dia só com frango. Mas se você deixar que ele escolha entre frutas, ervilhas e chocolate, ninguém pode garantir que sua dieta será equilibrada”.
8. Nunca obrigue seu filho a comer
Bem-vinda ao seu novo mantra materno: não obrigue seu filho a comer. Nunca. Diferencie paciência de persistência. Qualquer método que force uma criança a comer, que a compare com outras crianças (tornando melhor aquele que come mais), que proponha trocas pela comida (se precisa ser troca, certamente a comida deve ser ruim – você não pensaria assim?) é prejudicial para alimentação. Você gostaria que alguém o forçasse a comer? Obrigasse? Enfiasse goela abaixo? Esse comportamento, de fato, não é ensinar seu filho a comer, é empanturrá-lo à força. Quer que ele coma bem? Deixe que ele pegue os alimentos, sinta os sabores, opte pela livre demanda (de leite materno ou de leite artificial), torne a alimentação da família mais saudável (sim, chocolate às escondidas). Obrigar o filho a comer é também alimentar algum tipo de transtorno alimentar – que não necessariamente se materializará na infância.
9. Seu filho sabe se tem fome, não o relógio
Ele não quer seguir o horário de comer? Pode parecer um grande caos, mas não é. Confie no seu filho, ele sabe se tem fome. Os bebês dificilmente mamam em horários regulares e dificilmente vão seguir horários regulares para se alimentar. É lei universal da criação de filhos: crianças precisam de rotina. Rotina tem a ver com ritmo, não com o relógio martelando na cabeça dos pais. A ideia, claro, não é vencer a criança pela fome. Deixá-la com fome para que então ela coma tudo (bom menino, boa menina), principalmente criar uma lógica de competição por meio da qual a comida é o prêmio. Liberdade e independência para que a criança saiba que pode negar quando não quiser e pegar (ou pedir) quando estiver com fome. Se ela não tem mais fome, talvez seja o momento de escovar os dentes e ir brincar.
10. A criança é livre para comer ou não
A recomendação oficial da Organização Mundial de Saúde (OMS) é que a Introdução Alimentar (IA) seja iniciada a partir dos seis meses de vida do bebê. Há mais de uma razão para esse motivo. Diversos estudos com bebês de quatro e seis meses demonstraram que quando a introdução alimentar é iniciada aos quatro meses, o bebê passa a mamar menos, mas quando iniciada aos seis meses, não interfere nas mamadas. Além disso, leva-se em conta a maturidade da digestão do bebê, que aos seis meses está mais preparado para digerir e absorver melhor os nutrientes. Oferecer alimentos não é enfiar alimentos. Como explica González, “muitas crianças de peito não querem nem provar outro alimento até os oito ou dez meses, ou mesmo até mais tarde. Estão perfeitamente sadias e felizes, seu peso e sua altura são normais, seu desenvolvimento psicomotor é excelente, pois elas têm o suficiente com o peito e, portanto, não querem mais nada”.
Na prática, com as mães
“Meu filho desde pequenininho sempre estávamos com ele na cozinha e ele sempre vendo tudo, principalmente no horário das refeições. Quando completou seis meses, começamos a introdução alimentar, aos poucos começamos com o almoço com apenas algumas colheres e percebi que ele se animava, pois estava sentado junto da família à mesa. E isso serviu como um incentivo. Em duas semanas ele já fazia todas as refeições. Aqui em casa sempre presamos por comida saudável. Ele se alimenta superbem. Eu acredito que o exemplo da família incentiva a criança a comer. Somos adeptos a comidas mais saudáveis, evitamos comer besteiras, e se comemos é escondido no horário que ele dorme (risos). Eu aconselho a dar o exemplo. Não adianta querer que a criança coma salada se você na frente dela abusa da fritura. Repense sua alimentação”.
Cássia Rodrigues Machado (SP), 22, mãe de Carlos Eduardo, de um ano e dez meses.
“Rebeca mostrava interesse em comer desde uns cinco meses. Com seis meses começamos a IA com frutas e papinha "salgada". Não fiz BLW. Minha experiência é boa até hoje. O que eu acredito que fez faz ter sucesso com a alimentação dela é pensar que não posso ficar nervosa e com grande expectativa. Que comida não é só alimento para o corpo mas para a alma. E por isso eu me mantendo calma e assertiva ela come bem. Sempre respeitei os dias que ela não queria comer, ou se só queria fruta, ou água ou tetê. Alimentação infantil tem que ser saudável, mas também tem que ser a realidade da família. Esse equilíbrio que vai ser sucesso dentro de casa. Sal com moderação depois de um ano, açúcar segurar sem até quando conseguir. Mas os extremos, ao meu ver, são perigosos, pois dentro de casa é tudo natural, sem isso ou sem aquilo, aí na rua pode ser tudo diferente e até fazer mal depois. Os pais ajudam os filhos a comerem bem quando há harmonia na mesa. Um clima leve e descontraído ajuda muito. Comer é uma alegria e essa alegria passada pelos pais na mesa ajuda a criança a não se sentir obrigada a comer. Se comida for uma obrigação não vai dar certo nunca! Comer bem para mim não é só a quantidade de colheres que a criança come, mas satisfação em comer! Rebeca tem dias que come o prato todo mais uma fruta e sai com barriga da mesa. Risos. Tem dia que dá duas garfadinhas e sai feliz igual. Recomendo que pensem que o alimento deve ser prazeroso para todos. Tentar tirar o peso da obrigação de comer. E trazer calma, assertividade e alegria para a mesa”.
Priscilla Vargas Azevedo de Lima (SP), 37, mãe de Rebeca, de um ano e quatro meses.
“Nossa IA foi com BLW, muito bem aceito desde o início. Desde o início investi em uma grande variedade de alimentos, até os que eu não comia. Sempre priorizei o prazer de comer, acreditando na capacidade de ele saber o quanto precisa comer, assim como fazer com que ele manipulasse os alimentos de várias formas, conhecendo cheiros e texturas. Thomas nunca come sozinho, sempre tem um adulto se alimentando junto com ele, crianças gostam de imitar os adultos, ficam curiosos para saber o que estamos fazendo. A refeição é um momento social, e é importante que a criança faça parte do mesmo. Adulto algum gosta que coloquem comida à força em sua boca, com eles não é diferente, a palavra respeito tem que prevalecer.
Quando uma criança não come muito, não adianta encher o prato dela, isso só tornará o momento ainda mais traumático para ambos, diminuir as porções ajuda muito, se ela quiser mais, ela vai pedir. Infelizmente temos uma cultura de quantidade, “tem que comer tudo”, “tem que raspar o prato”, por isso tanta frustação quando eles não correspondem a isso. Comer bem é comer com prazer, é saber o que está comendo, é se sujar (sim, faz parte), é saber que as refeições fazem parte de um momento leve, não de brigas. Muitas mães me escrevem falam que o filho não come bem, ou que não ganhou peso, sei que é repetitivo, mas é importante lembrar, cada criança é única, o ritmo de crescimento cai depois dos 12 meses, por isso é normal que comam menos, não comparar com o filho do vizinho que come mais, conversar com a criança, perguntar por que ela não gostou, com os maiores isso é possível. Perguntar o que ele gostaria de comer, isso não significa ficar refém das vontades do filho, mas ajuda a entende-lo.
Se os pais realmente acham que a criança não come bem, uma pergunta que o Dr. Carlos González faz no livro “Meu Filho Não Come”, é se a criança está ativa, se perdeu muito peso em uma semana, se está dentro de uma das curvas (não só em cima da bendita curva verde), o que o pediatra acha disso tudo. O principal é acalmar o coração e baixar a ansiedade, por mais difícil que seja, conversar muito, e ter empatia pela criança, são muitas mudanças em pouco tempo. Algumas coisas que me ajudam é sempre colocá-lo para me ajudar na cozinha, lavando os alimentos, mexendo, colocando em forminhas, isso é importante para eles. Depois que ficou maior, muitas vezes deixo que ele monte seu prato, com o que quer, como mãe, meu papel é ser uma facilitadora, continuando a oferecer alimentos saudáveis e variados, mesmo aqueles que ele não aceita, dia ou outro voltam para o prato, com apresentações diferentes.
Com respeito e confiança, na hora deles (não nossa), vai dar certo”.
Daniela Zanoni (SP), 40 anos, mãe do Thomas, dois anos e quatro meses e no comando do perfil Bebê BLW (@bb_blw).
“Um misto de descobertas e ao mesmo tempo uma lição de como não gerar expectativas excessivas. Até um ano Alice comia absurdamente bem, de tudo, o tempo todo e em grandes quantidades. Não rejeitava nada! Após essa idade ela começou a escolher o que e quando queria comer. Hoje passamos por altos e baixos, ora come muito, ora come quase nada, ora come apenas um dos alimentos. Exemplo: faço no almoço arroz, feijão, batata-doce, frango e chuchu... ela come o arroz, feijão e pede mais. Na janta não quer saber de feijão, come batata doce pura... e por aí vai. Deixo ela a vontade para comer da maneira que quiser: sozinha, com a mão, sentada na mesa, no chão, no meu prato ou no dela e estou trabalhando na minha cabeça como desencanar um pouco. Não tenho regras com relação a quantidade de alimento, as premissas aqui são básicas: nada de açúcar, industrializados ou besteiras. Sempre faço os lanches com receitas saudáveis que pego na internet. O que eu tento fazer aqui em casa é me atentar as preferências dela. Exemplo: ela não gosta de alimento empapado como purê ou risoto, gosta de alimento seco e separado. Então tento adequar a isso e sempre oferecendo uma grande variedade mesmo que ela não coma. Eu assisti muitos vídeos do pediatra espanhol Carlos González, isso me ajudou a desconstruir aquele mito de que tem que raspar o prato. É um exercício diário, por vezes eu imagino que ela vai desmaiar de fome, mas quando ela realmente está com fome ela pede, e cabe a mim oferecer um alimento adequado e não um pacote de bolacha recheada, por exemplo”.
Lunna Caroline (GO), 28, mãe de Alice, um ano e dez meses.
Paciência em primeiro lugar (e isso pode ser difícil)
Há pouco mais de 100 anos, o comportamento sobre alimentação infantil era outro: os pais não reclamavam de os filhos não comerem e alimentar em excesso era imperdoável. A introdução alimentar era realizada com cautela e a amamentação era recomendada pelo menos até o um ano de idade. A partir dos treze meses as indicações para adicionar alimentos específicos na dieta começavam a acontecer, de modo que as crianças começavam a se alimentar com legumes e carnes a partir dos quatro anos. Por que eles comiam tão bem? Porque era uma quantidade limitada (ou porque estavam com fome!). Se essas crianças do passado, nossos bisavôs, comeram frutas e legumes ao longo da vida deles, seus filhos vão comer – se os hábitos da família forem, claro, saudáveis.
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