Quando mais diverso e acolhedor, mais rico é um país – sobre isso, não há dúvida! No Brasil, a imigração deu origem a uma mistura única e que torna o país um lugar mais bacana de se viver e visitar. São Paulo, por exemplo, não seria o que é hoje sem a presença dos imigrantes italianos e japoneses que desembarcaram na cidade na primeira metade no século 20.
De lá para cá, muitos motivos levaram estrangeiros a deixar seu país de origem rumo ao Brasil: duas guerras mundiais, programas de incentivo do governo brasileiro e, mais recentemente, desastres naturais (a exemplo do terremoto que atingiu o Haiti em 2010) e conflitos civis, como a Guerra da Síria.
Um dos mais de 2 mil refugiados sírios com visto no Brasil, o engenheiro mecânico Talal al-Tinawi, de 43 anos, chegou ao país em 2013, depois de ser confundido com um opositor do ditador Bashar Al-Assad. Ele deixou Damasco com a família e viveu dez meses no Líbano até chegar a São Paulo, sem falar uma palavra de português. "Aprendi a língua com voluntários e a família que me acolheu", lembra. No Brasil, Talal chegou a trabalhar como engenheiro e a vender roupas no bairro do Brás.
Para a festa de aniversário da filha, ele e a mulher, Ghazal, preparam pratos típicos da Síria. Um amigo e voluntário da ONG Adus, que se dedica à integração de refugiados, sugeriu que eles começassem a vender os quitutes sob encomenda. O novo negócio começou a ser divulgado no Facebook, até que surgiu a ideia de levantar recursos para a abertura de um restaurante via crowdfunding – a meta, de R$ 60 mil, foi superada e Talal conseguiu arrecadar R$ 71 mil.
Aberto em abril do ano passado, o Talal Culinária Síria funciona no bairro do Brooklin, na capital paulista, e o proprietário diz que já não pensa um validar o diploma de engenheiro no Brasil, um desejo desde que chegou ao país. "Já me considero um cozinheiro e pretendo abrir lanchonetes com a marca Talal, menos burocráticas e custosas que o restaurante", conta. Pai de três filhos – a caçula, Sara, nasceu no Brasil, ele se considera acolhido e respeitado pelos brasileiros. "Minha mulher sempre usou o hijab e minha filha, de 12 anos, começou a usar. Nunca sofremos preconceito religioso. Na escola, os filhos têm os horários de oração respeitados. As pessoas só mostram curiosidade", diz.
Refugiados sírios são maioria no Brasil
Existem cerca de 9 mil refugiados de 79 nacionalidades no Brasil, segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), órgão ligado ao Ministério da Justiça. O relatório mais recente é de abril de 2016. Esse número pode ser bem maior se forem consideradas pessoas em situação análoga ao refúgio (vítimas de desastres naturais, por exemplo) – de acordo com a Polícia Federal, quase 50 mil haitianos solicitaram refúgio após o terremoto que atingiu o país, em 2010.
A rigor, refugiado é quem deixa o país de origem por motivos de raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação política ou sexual, entre outros. É o caso dos sírios, maior comunidade reconhecida de refugiados no país, com 2 300 pessoas. Eles são seguidos dos angolanos (1 420), colombianos (1 100), congoleses (968) e palestinos (376). A Guerra na Síria gerou a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial e, de acordo com a Agência da ONU para Refugiados, resultou em 5 milhões de refugiados. Desde 2013, o Brasil passou a emitir visto especial para afetados pelo conflito.
Refugiados: como ajudar
Sediada em São Paulo, o Instituto de Reintegração do Refugiados (Adus) é uma ONG que promove eventos e atividades de integração como bazares, feiras culturais e gastronômicas (das quais Talal al-Tinawi chegou a participar antes de abrir o próprio restaurante), cursos de português, encaminhamento ao mercado de trabalho e atendimento a refugiados. No programa Conectadus, por exemplo, é possível aprender inglês, francês e árabe com professores refugiados. Em dezembro, o estilista Ronaldo Fraga lançou, em parceria com a Adus, a campanha Re-existência, que chamou a atenção da moda para a causa dos refugiados (seu desfile na 41ª edição da SPFW teve dois sírios, uma congolesa, uma palestina e uma senegalesa na passarela).
Para se informar sobre cursos, eventos e encontros, é só curtir a página do Facebook da Adus. A ONG também sugere uma lista de instituições que ajudam moradores de Alepo.