Tá lá no dicionário, essa tal de timidez é o “acanhamento excessivo”. Quem vive na pele o lado mais complicado de ser uma pessoa tímida sabe que os sintomas vão além da vontade de desaparecer em eventos sociais. Entre eles estão: ansiedade, suor, taquicardia, dores estomacais e pensamentos que atrapalham o dia a dia, como “sou feia”, “não consigo” e “não sou boa o suficiente” – essas ideias, aliás, refletem um problema mais profundo: a baixa autoestima.
Essa vergonha de estar público, torna-se preocupante quando: “O indivíduo desenvolve algum prejuízo social por não saber lidar bem com sua ansiedade. Isto pode resultar em poucas amizades, isolamento afetivo e intelectual, problemas financeiros e de saúde, pois, em casos extremos, pode se sentir resignado até mesmo para pedir ajuda”, comenta o psicólogo clínico, Rogério Carlos da Silva, da Equilybra Clínica de Psicologia. Quando a timidez começa a atrapalhar o pleno desenvolvimento de sua vida, é o momento de tomar uma atitude. Para tentar ajudá-la, vamos a um teste rápido:
Pense no seguinte problema...
É sua primeira semana no emprego novo e você já é convidada para ir à festa de fim de ano da empresa. Qual é a sua reação?
a) Topa o convite na hora, fica empolgada e deixa o papo rolar numa boa com o pessoal de todos os setores!
b) Mesmo um pouco tímida, faz questão de comparecer por, pelo menos, uma horinha e se apresentar para os novos colegas.
c) Sente-se insegura e ansiosa quando chega à festa, começa a olhar para os lados e pensa constantemente numa desculpa para ir embora imediatamente.
d) Em uma rodinha de pessoas, começa a sentir que não é tão inteligente quanto as outras e por medo de falar alguma besteira, fica calada.
e) Nem vai, já que não conhece ninguém ainda...
Se você respondeu a ou b, está no caminho certo para ultrapassar a timidez que, na verdade, nem tem prejudicado sua vida social e profissional. Você está pronta para fazer networking e bombar a sua carreira, mesmo tendo um jeito tímido, de vez em quando.
Mas, cara leitora, se você respondeu c, d ou e, vamos conversar um pouco sobre autoestima, um ponto que toca praticamente toda pessoa tímida, que é a dificuldade de aceitação de si e de se envolver em situações novas. Pensamentos negativos, como estes expressos nas últimas 3 alternativas deste teste, mostram que sua confiança está abalada e que é preciso procurar estratégias de como vencer a timidez.
Se você respondeu C...
Colocar-se gradualmente em situações novas será o seu “remédio”
Você já está lá na festa. É recomendado que, de modo gradativo, você aprenda a se expor e tente manter o contato olho no olho. “Sentindo-se desconfortável e ameaçada, você perde a chance de manter um contato visual importante, que ajuda a construir uma relação de confiança e sinceridade, por exemplo”, explica Rogério. Com cautela, é possível se desafiar. Que tal tentar falar com uma pessoa nova a cada meia hora? Em vez de falar sobre si mesma, o que pode deixá-la um tanto insegura, que tal demonstrar curiosidade sobre a carreira daquele colega, sem ir muito para o lado pessoal?
Aquela sensação de querer evaporar tem tudo a ver com experiências desagradáveis, que você pode ter sofrido anteriormente. Tire apenas as lições boas do passado, bola pra frente e nada de sofrer por antecipação, amiga: não tema o que ainda não aconteceu! Neste momento de ansiedade, a dica do psicólogo é despoluir a mente e afastar os pensamentos que remetem a esta situação chatinha de um tempão atrás. Um jeito de fazer isso é praticar a respiração diafragmática, sabia?
A cada respirada, perceberá que sua confiança cresce e que dá para arriscar um pouquinho mais. Numa próxima oportunidade, vai querer conhecer pessoas na festa da família ou dos amigos, e aí vai falar sobre você. Quando perceber, já estará alçando metas maiores, como planejar uma viagem para um lugar onde terá que se expor ao novo o tempo inteiro... Um grande teste para a sua timidez será, por exemplo, falar outra idioma num país desconhecido.
Se seu jeito de fugir de uma situação que ativa o seu lado mais tímido é desviar o olhar, também será importante trabalhar sua autoestima. De acordo com o psicólogo, algumas ideias para elevá-la são: investir em autoconhecimento, confiar sempre em si, inspirar bons pensamentos, demonstrar iniciativa para realizar atividades que promovam o seu bem-estar físico, afetivo e psicológico.
Se você respondeu D...
Driblar os pensamentos negativos trará a confiança que você precisa
Todo dia de manhã, escreva três qualidades suas num papel, aquelas que você mais gostaria de demonstrar. Por mais que você tenha dias de baixo astral, nunca se esqueça, amiga, de que você tem o seu valor e que, sim, você é inteligente e tem opiniões importantes. E esse ritual matutino será um jeito de acordar para isso!
Não se deixe intimidar com o potencial alheio, pense que se todos podem ser bem-sucedidos e , com aplicação, perseverança e determinação, você também pode. Se acha que existe algum tema que precisa aprender mais sobre, leia um livro, abra o jornal e se informe. “Faça sua opinião se impor de acordo com as circunstâncias, com confiança e parcimônia. Não tenha medo de dizer ‘sim’ ou ‘não’ a tudo aquilo que compete a suas convicções; não fique temerosa em ser aprovada ou reprovada”, diz o psicólogo.
Se você respondeu E...
Fazer terapia pode ajudar!
O psicólogo indica a terapia cognitivo-comportamental para os casos mais críticos: “Em determinadas situações, certas crenças arraigadas como de desvalor (não sou bom suficiente), desamor (ninguém me ama) e desamparo (sou sempre preterido pelos outros), podem estimular pensamentos automáticos que não condizem com uma ameaça real, gerando emoções negativas e comportamentos disfuncionais, mal adaptados. Como isso pode ser mudado com a terapia? O paciente aprende que um dos maiores sabotadores pode ser a sua forma de rígida de imaginar e qualificar a realidade com pensamentos, crenças e emoções negativas. A mudança passa pela desconstrução de velhos hábitos cognitivos e habilidades sociais disfuncionais, estimulando a introjeção de um novo repertório de crenças, pensamentos e emoções mais adaptados e assertivos, os quais possam pavimentar uma melhor convivência social, afetiva e profissional”.