Você já ouviu falar dos ataques com ácido que acontecem na Índia? Se não, saiba que diversas mulheres de todo o país são vítimas deles, muitas vezes aleatórios e banais, e têm seus corpos deformados, quando não sofrem maiores danos. A falta de legislação e o acesso fácil a produtos químicos na Índia faz com que esse tipo de violência seja frequente.
As vítimas dos ataques, além de terem seus corpos queimados, veem a sua autoestima sucumbir ao preconceito e acabam vivendo escondidas, cobrindo as partes atingidas. A organização Stop Acid Attacks (Pare os Ataques com Ácido) procura combater essa violência dando assistência às mulheres atacadas.
Uma das ações da SAA foi abrir uma cafeteria comandada por cinco mulheres vítimas de ataques com ácido. O objetivo é evitar que elas tenham vergonha de sua aparência e mostrar como elas realmente são: batalhadoras.
A cafeteria não é simplesmente um estabelecimento na cidade de Agra, mas um lugar com paredes cobertas de desenhos artísticos de mulheres e de estantes recheadas de livros com autores como Nelson Mandela, Gandhi e Malala. A história por trás da ação vai muito além de oferecer uma oportunidade de trabalho para as vítimas: “Isso não é um negócio só para que elas tenham independência econômica. É importante que elas desenvolvam suas habilidades e sintam um ambiente de comunidade, algo que perderam depois dos ataques terríveis”, explica um dos membros da SAA em uma entrevista para o jornal El Mundo.
Rupa é uma dessas cinco mulheres: em 2008, quando tinha 15 anos, sua madrasta jogou ácido nela enquanto dormia, atingindo a pele de seus lábios, nariz e bochechas. O motivo de tamanha covardia foi o fato de sua madrasta não querer perder a ajuda de Rupa nos afazeres de casa quando ela se casasse. Ela ficou três anos sem se olhar no espelho, e só depois de passar por sete cirurgias voltou a fazê-lo. Seu pai ficou do lado de sua madrasta e, desde então, Rupa vive com seu tio. “Antes sentia vergonha, tapava minha cara e não tirava fotos, mas não me importo mais com o que as pessoas falam”, comenta.
Algo similar ocorreu com a sua companheira de trabalho Ritu, de 22 anos, que, como consequência de uma disputa pelas propriedades de seus pais, foi atacada com ácido por um desconhecido enquanto assistia a uma partida de vôlei. Ela sofreu queimaduras em 90% de seu rosto e perdeu um olho. Assim como sua colega Rupa, Ritu já fez oito operações e está começando a superar o trauma.
Essas cinco mulheres com histórias similares se encarregam de administrar a cafeteria, que não deve parar por aí: elas também têm a intenção de abrir franquias em outras cidades. Um dos principais problemas enfrentados pelas vítimas é a dificuldade de encontrar um emprego, especialmente se o trabalho envolve contato direto com o público, por causa das cicatrizes. Sheroes Hangout não é só um café e sim um lugar para encontrar a confiança e autoestima que essas mulheres batalhadoras precisam.
Leia mais:
Geni: conheça o projeto que traz modelos transgênero como pin-ups
"Underneath we are...women". Conheça a campanha que estimula a diversidade feminina
Project Mermaids: mulheres viram sereias em projeto que visa salvar os oceanos
Quadrinhos abordam a questão do estupro com situações do dia a dia
A hashtag #RockTheCrop viraliza depois do conselho de mau gosto da revista Oprah