Uma em cada dez mulheres sofre com a endometriose, de acordo com a World Endometriosis Research Foundation. Esse número refere-se a aproximadamente 176 milhões de mulheres que sentem cólicas fortíssimas e uma série de desconfortos durante o período menstrual. Muitas vezes, por anos.
O que é endometriose
Durante o ciclo menstrual saudável, a camada de mucosa que reveste a parede do útero, chamada de endométrio, aumenta de espessura para alojar uma possível gravidez. Quando a concepção não acontece, esse “revestimento extra” descama, resultando no sangramento menstrual. No quadro de endometriose, o tecido endometrial, ao invés de ser eliminado, segue para além das trompas: ovários, cavidade pélvica ou intestinal. Há casos graves de pacientes que tiveram os rins e até pulmão lesionados pela doença. “A endometriose pode ser causada por diversos fatores, como problemas hormonais, imunológicos e até genético. Existe, inclusive, a possibilidade de ser uma condição hereditária”, afirma Frederico Corrêa, professor da Universidade de Brasilia e diretor do Centro de Excelência em Endometriose (DF).
Essa é a vertente mais aceita na medicina para explicar a condição, que ainda não possui causa comprovada. “Outra teoria aborda a transformação de células desses órgãos, que assumem as características das localizadas no endométrio”, explica Marcello Valle, ginecologista, especialista em reprodução humana, diretor da Clínica Origen (RJ). O tecido atingido inflama, causando lesões e nódulos, e tende a expandir. Acredita-se também que o estresse e a alta circulação de adrenalina no organismo impactem as células do endométrio, levando médicos a cogitarem que a condição trata-se da “doença da mulher moderna”, atingindo principalmente moradoras dos grandes centros urbanos.
Sintomas: médico e paciente devem estar atentos
“Cerca de 70% dos sintomas começam na adolescência”, diz Frederico Corrêa. Muitas meninas sentem, desde a primeira menstruação, cólica forte, um dos principais sintomas e frequentemente ignorado. “Pesquisas indicam que a demora no diagnóstico correto é de 7 a 12 anos. E a principal razão é cultural, pois ainda há especialistas e pacientes que acreditam que a cólica durante o período menstrual é um fator natural, inerente a todas as mulheres”, explica Frederico. As brasileiras descobrem ter a doença entre os 20 e 40 anos, conforme dados da Sociedade Brasileira de Endometriose. Fluxos longos e intensos de sangramento, dor e desconforto durante a relação sexual (especialmente se há penetração), dores contínuas na pelve e dificuldade de engravidar são alguns dos sintomas. Há casos de dor ao urinar ou evacuar, e até sangramento nessas excreções.
O ginecologista e obstetra Tomyo Arazawa, da Alira Medicina Clínica (SP), diz ainda que os exames de ultrassom e ressonância ajudam a levantar a hipótese da doença porém, muitas vezes, ela ainda pode não ser detectada. “É importante procurar um especialista caso a paciente apresente qualquer sintoma diferente do que está habituada.”
Consequências
A dor, constante em alguns casos e severa durante o ciclo, impacta diretamente a qualidade de vida das mulheres: o rendimento no trabalho cai e poucas são as empresas que compreendem essa condição – muitas mulheres ouvem que “é psicológico” ou que “é besteira” do RH e até de médicos. A vida social fica em último plano: desmarcar compromissos na última hora e deixar os amigos bem chateados é uma constante.
E, imagine, quais as chances de sentir vontade transar? Zero. O desconforto que a dor causa, acaba com qualquer clima - e sexo, só vale quando é bom para os dois.
Uma outra preocupação recorrente é a infertilidade, que 50 a 60% das pacientes com endometriose podem enfrentar. “O quadro inflamatório impacta no processo de fecundação dos órgãos reprodutores; na qualidade dos óvulos que diminui, as trompas podem apresentar lesões e ter sua anatomia modificada, o que dificulta e até pode impedir a passagem dos espermatozoides, por exemplo”, esclarece Frederico Corrêa.
Outra preocupação recorrente é a infertilidade. 50 a 60% das pacientes com endometriose podem enfrenta-la. “O quadro inflamatório impacta no processo de fecundação dos órgãos reprodutores: a qualidade dos óvulos diminui e as trompas podem apresentar lesões, tendo sua anatomia modificada, o que dificulta e até pode impedir a passagem dos espermatozoides, por exemplo”, esclarece Frederico Corrêa.
Tratamentos
Dentre os tratamentos não invasivos, os anticoncepcionais contínuos são amplamente utilizados. Assim, as dores e danos celulares causados pela doença, que está relacionada diretamente com o período menstrual, são evitados. Infelizmente, como não há medicamentos que tratem as lesões, a abordagem é medicar os sintomas. “Inicialmente, as pacientes são tratadas com analgésicos e pílulas que contenham estrogênio e progesterona. Também existem hormônios injetáveis e outros medicamentos orais que suprimem a produção de estrogênio e, consequentemente, a progressão das lesões. Todavia, possuem efeitos colaterais e não devem ser usados de forma definitiva”, alerta Marcello.
Nos casos em que os métodos não invasivos não respondem, a cirurgia para retirar os tecidos lesionados é recomendada. Mas eles não são definitivamente eliminados. “Não há cura, depois as lesões voltam a surgir”, diz o professor Frederico Correa. A infertilidade tem tratamento mais efetivo quando a doença é diagnosticada cedo. Há métodos que auxiliam as pacientes que desejam engravidar, desde a fertilização in vitro ao congelamento de óvulos, ambos procedimentos considerados com perspectivas de resultado positivo pelos especialistas.
Cada caso é especial, é necessário conversar com um especialista que proporcione segurança e esclareça todas as dúvidas sobre os sintomas e tratamentos. Lembre-se que o acompanhamento médico é fundamental para garantir que a doença seja controlada.
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