Passar pela experiência de um aborto espontâneo pode ser um golpe devastador para a mulher. Ao contrário do que muitos pensam, não é necessário estar acima do peso ou sofrer de um problema médico sério para correr o risco. Muitos abortos acontecem em mulheres jovens e saudáveis sem qualquer problema identificado.
Segundo Marcelo Burlá (RJ), ginecologista e obstetra especialista em Medicina Fetal, considera-se caso de aborto quando a perda da gestação ocorre antes das 22 semanas do ciclo, ou até 500g de peso fetal. Há ainda uma classificação de acordo com o tempo e as características: o aborto precoce, o aborto tardio, o recorrente e o oculto. Veja abaixo a definição de cada um.
Aborto precoce
Acontece nas primeiras 12 semanas de gravidez. É muito comum (uma em cada cinco gestações vai resultar em aborto espontâneo neste período) e pode acontecer de as mulheres viverem essa situação sem nem terem se dado conta ainda de que estavam grávidas. Por conta da precocidade, algumas mulheres talvez não se sintam permitidas a sofrerem a perda. Porém, é preciso entender que a dor é totalmente compreensível e normal nesta situação. Ao sentir dificuldade de lidar com as emoções, não pense duas vezes, busque apoio com amigos e familiares e apoio profissional especializado.
Aborto tardio
É considerado tardio quando ocorre depois de 12 e antes de 22 semanas (após este ponto, o nascituro passa a ser considerado natimorto). Nesta fase, talvez o termo “aborto espontâneo” não seja considerado justo para quem passa pela situação, pois já há um vínculo maior da mãe com o bebê.
Abortos recorrentes
Este termo é usado para descrever três ou mais abortos espontâneos seguidos. É indicado fazer exames para descobrir exatamente o que está acontecendo. Juliana Amato, ginecologista e obstetra, explica: “A principal causa é trombofilia, no entanto, muitas vezes não se consegue o diagnóstico exato”. Por outro lado, um problema não identificado pode significar a chance de uma futura gravidez.
Aborto oculto
É quando os sinais usuais não aparecem e a mulher pode nem saber que há um problema. Além de não haver sintomas de aborto espontâneo, os comuns da gravidez podem inclusive continuar e o aborto não será percebido até a gestante fazer um ultrassom, por exemplo.
O que causa o aborto espontâneo?
De acordo com Marcello Valle, ginecologista especializado em reprodução humana, a causa mais comum é anormalidade cromossômica. Na maioria das vezes, é uma falha genética que ocorre na formação do embrião e não um problema herdado dos pais.
Apesar de este motivo ser o mais comum, é impossível saber exatamente por que o aborto ocorre de fato, e é importante lembrar que até uma mulher que teve vários abortos pode viver uma gestação completa. É imprescindível ficar atenta aos fatores que aumentam as chances de perda gestacional. Por isso, listamos aqui os mais comuns, segundo Juliana Amato:
- Problemas hormonais: estudos internacionais mostram que mulheres com ciclos irregulares ou alterações hormonais podem encontrar mais dificuldade em conceber uma criança e ter mais chances de um aborto espontâneo. Isso não significa que vá ocorrer de fato, mas as chances aumentam;
- Infecções: doenças como rubéola, citomegalovírus, toxoplasmose, sarampo, entre outras, afetam os órgãos reprodutores, o que pode estimular contrações e provocar a expulsão do feto;
- Miomas: miomas grandes ou nos casos de Incompetência Istmo Cervical, que é quando o colo do útero é curto. Neste último caso, com o crescimento do feto e seu aumento de peso, o colo diminui mais ainda podendo gerar uma dilatação precoce e consequentemente a perda de gestação;
- Cigarro, álcool e cafeína: se você fuma, bebe além do recomendado ou consome muita cafeína, o risco aumenta. O cigarro contém toxinas que afetam o desenvolvimento do embrião; já o consumo excessivo de álcool pode gerar dependência no feto, que em casos mais extremos leva à sintomas de abstinência alcoólica; e a cafeína pode causar agitação no bebê. Resumindo, o ideal é cortar estes itens durante a gestação ou pelo menos moderá-los;
- Síndrome de Hughes: é uma doença autoimune, ou seja, acontece quando a defesa do nosso corpo está desregulada e começa a atacar o próprio organismo. No caso da síndrome, os anticorpos que o corpo produz para enfrentá-la acabam provocando um excesso de coagulação no sangue, aumentando as chances de trombose. Mulheres com essa doença tem menos que 18% de chance de levar adiante uma gravidez, pois a placenta também é atacada pelo sistema autoimune;
- Gravidez ectópica: é quando o óvulo se instala fora do útero (geralmente nas trombas). Os primeiros sintomas são dor e sangramento vaginal, muitas vezes acompanhados de tonturas;
- Ovo cego (gestação anembrionária): ocorre quando o óvulo fertilizado se fixa na parede do útero, mas o embrião não se desenvolve.
Há quaisquer outros fatores de risco?
A melhor maneira de assegurar uma gravidez saudável é comer bem e manter um bom nível de atividade física, assim seu corpo ficará preparado para a gravidez. Segundo Valle, “a idade da mulher é um importante fator a se levar em consideração, pois o risco de aborto aumenta conforme se envelhece”. Pesquisas mostram que depois dos 30 a mulher está mais suscetível à perda e a situação piora após os 35 anos.
Alterações nos cromossomos dos bebês também são mais recorrentes quando a gestante é mais velha. Geralmente, nestes casos, os médicos podem pedir um exame de pré-natal chamado Amniocentese, para detectar possíveis anormalidades. O procedimento envolve uma agulha fina que é inserida na parede abdominal da mulher para retirar pequenas quantidades de líquido amniótico. Apesar de ser extremamente efetivo em revelar quaisquer problemas escondidos, como Síndrome de Down, há uma chance de cerca de 1% de o exame causar aborto. Este fato é um dos motivos que faz com que muitos casais deixem para fazer o exame em situações extremas.
Estou tendo um aborto?
Se notar manchas de sangue ou sentir fortes dores abdominais, busque um profissional especializado. Algumas vezes o sangramento pode parar e não ter acontecido nada com o bebê – situação conhecida como ameaça de aborto. De fato, não é incomum para mulheres passarem por um escape no primeiro trimestre e muitas que vivem isso não necessariamente estão no grupo de risco. “É normal ocorrer um sangramento relacionado a nidação, ou seja, implantação do embrião no útero no início da gestação”, diz Juliana.
Agora que você já tem mais informações sobre o assunto, para se prevenir, observe seu corpo. Fique atenta, siga as recomendações médicas e procure manter hábitos saudáveis.