Em um parto não nasce somente um bebê. Nasce também uma mãe, um pai e uma família. O trabalho de parto pode ser longo e cansativo, com muitas horas de concentração, contração, de dores, de descobertas e de sorrisos. Pode ser também um trabalho de parto com fase latente e fase ativa rápidas. O parto em si pode ser normal ou pode ser uma cirurgia cesariana – e, em ambos os casos, deve ser compartilhado e assistido com (muito) respeito à parturiente e ao novo ser que chega a esse mundo. Nos dois casos, a mãe está na “partolândia”. Seja pelas dores das contrações da fase ativa, seja pela ansiedade e a felicidade de ver o seu filho nascendo, leva-se tempo para registrar tudo o que aconteceu no dia que muitas mães classificam como o melhor de suas vidas. O corpo da mãe ganha registros eternos do momento e a memória da nova família se transborda de felicidade. Registrar o parto em fotografia é, assim, poder compartilhar toda a emoção do nascimento de um filho por meio das fotos.
Por trás da lente
“Registrar parto é viver fora da rotina. Um fotógrafo de parto não controla absolutamente nada. Não existe um horário marcado e nem uma duração estabelecida. Podemos ter que sair às três da madrugada e retornar 12, 15 ou 20 horas depois. Podemos ter que largar o carrinho de compras cheio na fila do mercado, deixar a família no Natal e passar a data ao lado de uma nova família que está para nascer ou aumentar. Tudo é imprevisível.” Para Juliana Matos (DF), 31, à frente do Juliana Matos Fotografia, esse é o grande diferencial da fotografia de parto. E, além da imprevisibilidade, não ter controle de luz ou do cenário, não usar flashes ou luzes diretas.
Fotógrafa profissional desde 2011, Juliana entrou para o ramo do registro de família em 2012 e, ativista da humanização do nascimento, migrou para o registro de parto. Com mais de 200 partos em seu portfólio, acredita que participar de um parto para fotografá-lo é estar diante do sagrado, “com a força ancestral das mulheres, ver o poder de uma mãe de trazer seu filho ao mundo”, completa.
Presenciar o sagrado. Esse também é o sentimento da fotógrafa Bianca Namorato (SP), 28, jornalista, que passou a fotografar partos quando sua amiga Thais, hoje sócia na Instinto - Fotografia e Vídeo de Parto Natural, a convidou para fotografar o seu parto. “Já tinha interesse por essa área e acompanhava alguns trabalhos desde que tive a oportunidade de chorar vendo o parto domiciliar de uma conhecida, mas viver essa experiência de estar ali, de corpo e alma, para registrar e compartilhar aquele momento tão intenso e sagrado foi avassalador. Depois disso, o registro de parto me fisgou!” Para ela, fotografar partos é muito diferente de outras áreas porque, mais do que técnica e disponibilidade, é preciso estar de coração aberto para captar a energia de cada momento. “Quando você vê uma foto de algum parto natural, você consegue sentir toda a dor, a força, a natureza daquela mãe. E para isso não tem curso. Tem entrega, tem sensibilidade, tem amor.”
A jornalista e fotógrafa Thais Maruoka da Silva (SP), 29, se interessou pela fotografia e filmagem de partos após o nascimento da filha, Maya, um ano e um mês. Parir em um parto humanizado influenciou sua carreira profissional e contribuiu para que ela se engajasse mais pelo parto natural, pelo parto com respeito, pelo empoderamento feminino. Certa de que cada nascimento a influencia de um jeito, acredita que os sentimentos envolvidos são tantos que agradecimento é a palavra para resumir a chance de presenciar a chegada de um bebê a esse mundo. “É um ‘mix’ de ansiedade, felicidade, amor, enfim... O coração acelera no começo de uma ligação pra avisar que o trabalho de parto começou. E explode no momento em que o bebê nasce. Talvez o resumo seja ‘Gratidão’”.
“Fotografia à flor da pele”. É como Amanda Paiva (RJ), 31, classifica a importância de registrar o parto. Apaixonada por fotografia desde a infância por causa das fotos que seu avô fazia, Amanda se tornou fotógrafa de parto após fazer o curso de doula do Grupo de Apoio à Maternidade Ativa (GAMA) no Rio de Janeiro (RJ). A cada parto, com uma história diferente e uma nova família nascendo, Amanda acredita que “é um privilégio poder registrar esse momento tão especial na vida de uma mulher. Da fase ativa ao nascimento, os momentos são de puro instinto. É acompanhar uma mulher transformando dor em força, respeitando o próprio corpo e a natureza.” Todos os partos que já registrou a marcaram de alguma maneira, mas há um que marcou de maneira particular. “Foi o parto de uma gestante que pariu sua filha de cócoras no banheiro da maternidade, numa concentração e serenidade que emocionou toda a equipe. A água quente do chuveiro aliviava as dores e ela se postou de cócoras no chão, o bebê nasceu ali mesmo, com a obstetra deitada no chão, pronta para entregar o bebê nos braços da mãe.”
Diante da lente
Para Aline de Sousa Ferreira (DF), 32 anos, mãe do Nicolas, um ano, registrar o parto foi muito mais do que escolher um fotógrafo para registrar um momento único. “Primeiro foram anos esperando, desejando e sofrendo por uma gestação que não acontecia... Sofremos um aborto logo nos dois primeiros meses de casamento. Como ser mãe era algo que sempre quis foi muito traumático. Fizemos tratamentos, viajamos, tentamos desencanar. Eu era obesa e a opinião unânime entre os médicos era que esse era um fator determinante para minha infertilidade. Foi quando decidi me submeter à cirurgia bariátrica. Com menos 40 kg e um ano e quatro meses depois do procedimento vivemos a felicidade do positivo. Nossa! Foi mágico! Os meses mais lindos e esperados da minha vida. Aproveitei ao máximo a espera do Nicolas e desde muito antes de ficar grávida (talvez desde sempre!) tinha a certeza de que queria o parto o mais natural possível. Queria sentir Nicolas nascer! Foi tão bom e importante senti-lo durante as 41 semanas e quatro dias de gestação que não poderia ser negativa a experiência de senti-lo vir, do jeito dele. O parto era o auge de tudo que esperei na vida.” Aline só conheceu a fotógrafa Juliana Matos no dia do parto, apesar de ter certeza da ‘química’ entre elas pelas mensagens que trocaram. Para Aline, ver o próprio parto a fez se sentir capaz, forte, fêmea e mulher. “Eu que um dia tinha perdido já as esperanças e estava iniciando um processo de 'aceitação' de uma maternidade que não existiria. Não foi simplesmente 'o parto', entende?”
A ideia de fotografar o parto de Elisa Veiga (RJ), 33, mãe de Henrique Veiga Teixeira, três meses e meio, partiu de uma amiga, irmã da fotógrafa Amanda Paiva, que queria presenteá-la. “Eu adorei, porque estava decidida a encarar um parto natural. Achei que o parto exigiria muito do meu marido, que por sinal também é fotógrafo. Ele chegou a pensar em tirar as fotos, mas ainda bem que não entramos nessa. E foi muito, muito importante a presença da Amanda com a gente. Meu parto foi muito rápido! Meu filho nasceu 50 minutos depois de eu ter entrado no hospital, então realmente não teríamos condições de pensar em fotos naquele momento. Amanda era como um anjinho ali do lado clicando tudo. O mais importante: uma presença suave, sem interferências no trabalho de parto. Foi muito importante porque pudemos curtir aquele momento. E eu precisava curtir. Aliás, o parto natural é a sensação mais louca do universo. Hoje posso mostrar as fotos pra todo mundo e através delas tentar explicar a emoção daquele momento mágico.”
Para Andrea Barreto (DF), 37, mãe Eduardo, 19, Maria Flor, 4 anos e meio, e da Anita, um ano e dez meses, registrar o parto em vídeo e fotografia ganhou uma nova dimensão. Isso porque do primeiro parto (da Maria Flor), humanizado, ela só tinha flashes, devido a intensidade da experiência. Por isso, quando engravidou da Anita, já sabia que iria registrar o parto. "Tive apenas que convencer meu marido, que foi convencido facilmente apesar de achar um momento muito íntimo da família. A ideia, além da possibilidade de registrar fatos que eu jamais recordaria, é de poder reviver este momento único na vida de uma família. O registro do parto também ganhou um sentido especial depois que resolvemos publicizá-lo nas redes sociais. O intuito foi o ativismo pelo parto humanizado e empoderado da mulher e da família neste processo. Além disso, decidimos colaborar com aquelas famílias que, assim como nós, procuravam vídeos de parto natural humanizado que contavam com a presença de irmãos. Na época em que procuramos, achamos apenas um vídeo. E o vídeo da chegada da Anita, feito por Juliana Matos, captou como é possível, sim, a participação de um irmão pequeno no parto, com tranquilidade. Pode-se dizer que o vídeo viralizou na época em que foi divulgado. Se não me engano, num curto período de tempo ele teve mais de 12 milhões de acessos."
Viver um parto é visceral. A mãe, muitas vezes, não se recorda da dor que sentiu, dos sons que emitiu. O pai, extremamente participativo, principalmente na concepção do parto humanizado, é suporte psicológico para a chegada do filho. Mas, quanto mais perto, mais a emoção extravaza. Em um parto não nasceu somente um bebê. Nasceu uma mãe, um pai e uma família. E foi registrado: o sagrado está ali, com delicadeza, força e paixão. Olhar o outro com respeito, não interferir e buscar registrar o que acontece: a dor, o choro, a força, a dança, os carinhos. Mas isso tudo acontece em um parto? Veja nas fotos.
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