No Brasil, dois em cada dez estudantes já praticaram bullying – e as agressões costumam partir dos meninos. É o que aponta pesquisa recente do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística(IBGE). De acordo com a pesquisa, 46,6% (contra 35,3% da pesquisa de 2012) dos alunos entrevistados disse que já sofreu algum tipo de bullying e se sentiu humilhado por colegas da escola. Deles, 39,2%, afirmou que se sentiu humilhado às vezes ou raramente e 7,4%disseram que essa humilhação acontece com frequência. Entre os principais motivos está a aparência.
Países como a Finlândia levam o assunto mais a sério e relocam recursos significativos para a área da educação. No país, o bullying é considerado tema de grande importância. Um dos principais objetivos da gestão é acabar com o bullying na sala de aula – e não à toa a Finlândia ocupa o primeiro lugar no Índice de Competitividade Global (GCI). O método KIVa vem sendo implementando a fim de corrigir o bullying ainda presente.
O que é o método KIVa?
Para compreender mais o termo e entender os conceitos que envolvem sua aplicação, o psicólogo espanhol Isaac Domingo explica: "É uma metodologia de intervenção aplicada a diferentes problemáticas, entre elas o assédio, já que provém da psicologia e é um forte componente psicossocial. O termo vem do finlandês 'Kiusaamista Vastann', que significa "contra o assédio moral". O método tem sido aplicado em 90% das escolas do país e os resultados têm sido excelentes, já que foi implementado de forma aleatória e os resultados apontam redução de bullying em até 80%.
Mas, afinal, qual o diferencial desse método? Ele não foca no “perseguidor” ou “assediador”, mas nos colegas, que riem da situação. "Me parece uma metodologia muito adequada. O bullying é um problema psicossocial muitas vezes tratada, com razão, desde a perspectiva psicológica, com o intuito de influenciar a conduta do agressor. Mas esse problema pode ser abordado a partir de uma perspectiva que considera que o que mantém o assédio é o comportamento do agressor reconhecido no grupo. Esses benefícios sociais de reconhecer o assédio são eliminados e o agressor deixa de servir, não consegue mais o mesmo resultado. E para isso, o mais eficaz é intervir no ambiente do agressor, para que os demais não deem a ele esse 'reconhecimento social' que o permite assediar outra pessoa. Quando ele deixa de receber um feedback positivo por seu comportamento, sua atitude deixa de fazer sentido, não é reforçada e se extingue", explica Isaac.
É fundamental que os professores e os pais começam por investigar minuciosamente o problema o mais rápido possível. A colaboração mútua é crucial. Mas, é possível agir antes que o problema comece. Como explica o psicólogo, um começo é implementar métodos ou programas de prevenção: "Primeiro eles poderiam desenvolver programas de prevenção obrigatória a ser ensinada nas escolas por psicólogos da instituição. Deveriam ser estabelecidos canais mais direto e abertos para que os alunos que apresentam sinais de que sofrem assédio possam ter aconselhamento e atendimento dos psicológico das instituições;incluindo criar equipes de 'observadores' que podem detectar indícios de qualquer problema", explica.
Leitura, uma forma de educar as emoções
Pequenas diferenças tanto físicas como psicológicas podem ser o gatilho para um caso de bullying. Por isso, é importante ensinar aos jovens a autoconfiança para eles não se sentirem afetados por possíveis insultos e aumentar a sua autoestima por meio da leitura. "Você não consegue machucar uma pessoa se ela não deixar. É importante ensinar as crianças que elas podem ser heróis e aumentar sua autoestima. Por isso é tão importante a confiança em si mesmo. No entanto, também deve-se ensiná-los a respeitar os demais e os benefícios que isso traz para que eles não se tornem agressores. Por essas razões, propõe-se que as equipes de orientadores das escolas trabalhem com as crianças desde cedo em oficinas que abordem habilidades sociais, empatia, comunicação, aprendizagem cooperativa. Tudo isso sem deixar de for as relações entre a escola e a família", acrescenta o psicólogo espanhol Morales Camisón.
Muitas vezes, as crianças vivem um verdadeiro drama o fato de serem diferentes por algo tão simples como ter sardas, usar óculos ou um aparelho auditivo e nossas histórias fazem eles perceberem que a aparência física não muda o fato de eles poderem ser heróis ou heroínas,conta Cristina Rodriguez, empreendedora da Mumablue.
A aplicação desses métodos que tiveram êxito em outros países, assim como influenciar a prevenção e a educação com autoestima das crianças, podem ser as chaves para ressolver os casos de bullying. Não só para resolver os problemas de assédio, mas para trabalhar fundamentalmente no ambiente no agressor, afetando a transformação de determinados padrões de comportamento social de todo o grupo. Boas sementes, aliás, para começar a modificar a cultura picaresca de Lazarillo de Tormes em que vivemos e mudar toda a sociedade, finaliza Isaac.
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