Um dos pensadores que melhor abordou a forma como a tecnologia e a globalização interferem nas relações sociais, Zygmunt Bauman, morreu esta segunda em Leeds, na Inglaterra, aos 91 anos. O filósofo e sociólogo foi o criador do conceito de modernidade líquida, usado para definir as relações sociais, econômicas e amorosas: fluidas e menos duradouras. O estado líquido foi a metáfora encontrada para dizer como as relações contemporâneas podem ser moldáveis e temporárias.
Ao contrário do que pode sugerir sua idade, ele não havia se aposentando nem passava o fim da vida descansando no Reino Unido: seu último livro Obcym u naszych drzwi (sem tradução para o português) foi publicado em 2016 e discute a crise da imigração. A riqueza de poucos beneficia todos nós?, de 2015, foi sua última obra lançada no Brasil. Ele era professor emérito na Universidade de Leeds desde 1971.
Polonês nascido na cidade de Poznan em 1925, Bauman serviu na Segunda Guerra Mundial e integrou o Partido Comunista. Depois de se formar em Sociologia, foi professor na Universidade de Varsóvia e acabou afastado em 1968 com algumas publicações censuradas. Judeu, sofreu perseguições antissemitas na Polônia e já viveu em Israel, Canadá e Estados Unidos, até se mudar para a Inglaterra.
Em 2003, seu livro Amor líquido virou best-seller e trata da fragilidade dos laços humanos, sejam eles amorosos, familiares ou com a humanidade (sob a ótica da questão dos imigrantes e refugiados). Ao longo da vida, Bauman escreveu mais de 70 obras, entre elas Modernidade Líquida, Medo Líquido e Tempos Líquidos. Publicada em 1989, Modernidade e Holocausto foi uma das mais relevante e rendeu a Bauman o conceituado Prêmio Europeu Amalfi de Sociologia e Ciências Sociais.
Além das relações humanas, Bauman tratava de globalização, individualismo e consumismo e de suas consequências nos dias de hoje. "Três décadas de orgia consumista resultaram em uma sensação de urgência sem fim", disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, em agosto do ano passado.
Na mesma entrevista, ao ser perguntado se considerava-se otimista, Bauman declarou: "esta não é a primeira crise na história da humanidade. De alguma maneira, as pessoas encontraram meios para superá-las no passado. Eles podem (e é essa capacidade que nos torna humanos) repetir a façanha mais uma vez. A única preocupação é: quantas pessoas pagarão com suas vidas desperdiçadas e oportunidades perdidas até que isto ocorra?".
Inspirador, não?
Para quem se interessar, os livros de Zygmunt Bauman publicados no Brasil foram lançados pela Editora Zahar.