Amiga, respira fundo. Você não é a primeira e nem a última a recorrer à pílula do dia seguinte. Eu sei, são muitas dúvidas rolando nesse momento, talvez uma angústia aí no coração, mas a gente vai superar isso juntas. Pula pras partes mais importantes, se precisar, mas depois volta pra ter uma noção melhor do que tá acontecendo no seu corpo, tá?
Quem vai ajudar a gente a responder essas questões são Zsuzanna Jármy Di Bella, coordenadora da Ginecologia do Setor de Planejamento Familiar da Unifesp, e Ana Lúcia Cavalcanti, médica ginecologista, especialista em sexualidade e vice-presidente da ABRASEX (Associação Brasileira dos Profissionais de Saúde, Educação e Terapia Sexual). Mas assim como a pílula, esse manual é apenas para situações emergenciais. Assim que possível consulte seu médico.
Indicações
Rolou sexo e: o DIU (dispositivo intrauterino) se deslocou? Você foi vítima de violência sexual? Esqueceu o anticoncepcional? Não toma, mas furou a camisinha? Não toma e nem usou camisinha? Ok, não vamos te julgar. O importante em qualquer um desses casos é tomar a pílula o quanto antes e (#peloamordedeus!) usar camisinha da próxima vez.
Por sinal, Ana Lúcia prefere chamar esse método de contracepção de emergência. "É usado vulgarmente o termo 'pílula do dia seguinte', os médicos também falam, e fica como se ela pudesse ser tomada no dia seguinte. Mas ela tem que tomar logo depois da relação, o mais rápido possível", alerta.
Qual marca escolher?
Antigamente, tomava-se duas pílulas anticoncepcionais comuns a cada 12 horas, por dois dias. Agora a única composição vendida no Brasil é levonorgestrel, 1,5 mg, em dose única ou fracionada em duas vezes. Ou seja, não importa a marca, o conteúdo é sempre o mesmo, uma dose alta de progestagênio (progesterona). "O termo correto é esse, porque é o hormônio que a indústria fabrica, não é exatamente igual ao que a mulher produz", explica Zsuzanna.
Como ela funciona no corpo?
O progestagênio bloqueia o hormônio luteinizante (LH) e, por isso, não acontece a ovulação. Ou seja, o óvulo não sai do ovário e não desce pras trompas uterinas (onde ele encontraria o espermatozoide meio crazy atrás dele). Além disso, o hormônio deixa o muco cervical -- secreção produzida pelo colo do útero -- mais viscoso, o que dificulta ainda mais a passagem do espermatozoide, e altera a motilidade das tubas (ou trompas), retardando um possível encontro dos dois. Também atrofia o endométrio, a parede do nosso útero, e, com isso, dificulta a implantação de um possível embrião nele.
Quais são os efeitos colaterais da pílula do dia seguinte?
Irregularidade menstrual, retenção de líquido, embolia pulmonar, alterações gástricas, fadiga, tontura, dor nas mamas, enjoos, vômitos e trombose -- embora tenha menos risco do que o anticoncepcional, com a dose padrão. O levonorgestrel é o que mais se liga a receptores de andrógenos, os hormônios masculinos. Então o uso exagerado, rotineiro, pode causar maior crescimento de pelos.
"Cada vez que se usa, tudo pode acontecer, desde não sangrar, sangrar dois ou três dias depois, a até nem sangrar na próxima menstruação ou dali a 40 dias. Se você usa várias vezes, altera mais ainda o eixo hormonal, perde a ciclicidade e o controle", esclarece Zsuzanna.
Sobre alterações de humor e possíveis efeitos emocionais, as médicas garantem que é psicológico e menos relacionado ao hormônio. "O medo de ficar grávida vai dar mais alteração do que a dosagem hormonal. Mas progesterona em altas doses pode dar depressão em algumas mulheres. Mas essa pílula foi criada pra se usar como exceção".
Por que quanto mais se demora pra tomar, menos eficaz ela é?
No meio tempo entre o ato sexual e a tomada da pílula do dia seguinte, pode acontecer a ovulação e isso diminui bastante a eficácia do remédio.
O que acontece se a pessoa toma mais de uma vez no mesmo mês?
Além de intensificar a irregularidade hormonal (veja os efeitos colaterais), pode afetar a eficácia, que chega a ser de 85%, no máximo. "As pílulas convencionais, diárias, dão a segurança de 99% pra que a gravidez não aconteça. Quanto mais se repete o método de eficácia mais baixa, menos segurança você vai ter", diz Zsuzanna.
"Peguei muitas adolescentes que fazem isso, tomam três vezes num mês. E chegam no pronto socorro com sangramento e acham que tão grávidas. Fazer isso geralmente deixa elas inseguras, porque tomam, começa a ter irregularidade, demora a sangrar. Ou ela acha que tá abortando ou que tá grávida", conta Ana Lúcia.
É melhor interromper o anticoncepcional depois de tomar a pílula do dia seguinte?
Não. É só voltar ao método rotineiro, levando em consideração que nos primeiros sete dias não há segurança e o sexo tem que rolar com camisinha. Se a mulher for obesa, nos primeiros 14 dias.
Há restrições de uso no caso de mulheres obesas?
Segundo os critérios de classificação de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde, explica Zsuzanna, a obesa tem a mesma segurança do que a não-obesa em relação a métodos contraceptivos. Mas, de forma geral, mulheres acima de 90 quilos ou com IMC de 35 kg por m2 – obesas moderadas ou mórbidas – podem ter risco maior de qualquer método contraceptivo não funcionar tão bem.
Pílula do dia seguinte causa aborto?
"Isso é muito alegado, mas a pílula não é abortiva. Ela é o hormônio da gravidez. Se a moça tomar e estiver grávida, não vai prejudicar [a gravidez]", reforça Ana Lúcia. Veja acima como o hormônio funciona no corpo.
Contraindicações
Zsuzanna é categórica: "Nenhuma. Até uma cardiopata pode usar. É melhor tomar do que ficar grávida e ser refém do hormônio em grande quantidade por 9 meses".
Preciso de receita?
Não, fica tranquila. Lembre-se: quanto maior a demora pra tomar, menos eficaz a pílula do dia seguinte é.
Este texto foi escrito por @marcelabraz editado por @cicaarra
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