Já ouviu falar sobre crudivorismo? Não? É o hábito de consumir alimentos crus, exatamente como são encontrados na natureza, ou preparados de modo a conservar suas características, sem passar pela panela quente. Os adeptos da dieta crudívora garantem que há muitos benefícios, entre eles, um emagrecimento saudável. Demi Moore, Natalie Portman e Donna Karan já disseram que encaram um cardápio de comida crua e adoram. Porém, vale ressaltar que a "alimentação viva" pode ser perigosa se não for feita com cautela e orientação.
O que é crudivorismo?
A dieta viva sugere um menu à base de comidas cruas ou submetidas a, no máximo, 40 graus de temperatura. A explicação é simples: quando cozinhamos os alimentos, há perdas significantes de nutrientes. "O prejuízo varia de item para item, do tempo e do tipo de cozimento – água ou vapor. Na água, mais nutrientes desaparecem. Não podemos ser taxativos quanto às porcentagens, mas digamos que, na melhor das condições, a perda é de 30%", explica a nutróloga Lenina Matioli (SP).
O crudivorismo não é praticado apenas por veganos ou vegetarianos. Também não deve ser confundido com frugivorismo – que inclui apenas frutas, verduras e legumes. De acordo com a nutricionista Gisele Barone (SP), existem três níveis de seguidores do crudivorismo:
- 100% crudívoros: consomem alimentos totalmente crus e, por isso, devem tomar um cuidado maior em relação à absorção e ingestão de nutrientes;
- 70% crudívoros: consomem os outros 30% de alimentos cozidos (sendo veganos ou incluindo ovos e derivados de leite na dieta);
- Os que estão em transição e incluem apenas o hábito de tomar suco verde e comer saladas cruas no almoço e jantar.
Crudivorismo: o que comer?
O crudivorismo é uma dieta rica em alimentos de origem vegetal como frutas frescas, vegetais, sementes, grãos germinados ou brotos como o trigo, arroz, cevada, centeio, aveia, lentilha, grão de bico, ervilha, alfafa e algas. Os alimentos podem ser desidratados ou deixados de molho para germinar, como no caso dos grãos. Eventualmente, entram carnes cruas como carpaccio, sashimis e ceviches.
Sandra Freitas, do blog rawfoodmec, é crudívora há dois anos, mas não se considera totalmente hardcore. “Embora eu passe muitos dias 100% crua, também consumo alguns alimentos que não são crus, tais como castanhas de caju e cacau. Após o crudivorismo, a minha alimentação é à base de muito suco verde, frutas, vegetais, sementes, brotos, grãos germinados, algas... Tudo gostoso. E, com esses ingredientes, preparo refeições, sobremesas, iogurtes, leites, etc”.
Como as informações sobre dietas crudívoras são escassas, Eduardo Corassa foi autodidata. Estudante da área de nutrição e saúde, possui diversas publicações sobre veganismo e um canal no YouTube, no qual fala também sobre crudivorismo. Sobre sua dieta, ele diz: “Pessoas que visam uma alimentação tão natural, tendem a embarcar em um estilo de vida também bastante natureba. Eu pratico o que é chamado de Higiene Natural (Natural Hygiene), também conhecido como a Ciência da Saúde. Ela prega um estilo de vida saudável, reproduzindo nossos hábitos na natureza, como uma dieta crua de frutas, vegetais e castanhas. Nós, higienistas, sugerimos que tudo que é gostoso e consumível em sua forma crua, sem adulterar, temperar ou misturar, é comida de ser humano”.
No crudivorismo, não são consumidos alimentos industrializados, processados, nem açúcares ou farinhas. Portanto, os produtos estrela dessa dieta são os alimentos que podem ser consumidos sem passar pelo fogão: basta comprá-los, lavá-los e consumi-los. Mas também existem muitas receitas crudívoras, que permitem uma variedade de pratos na rotina alimentar.
Você pode ter uma ideia de como funcionam as substituições de industrializados que nos parecem essenciais, como o açúcar, na receita de fondue da página Verde e Tal Cozinha Natural:
Fondue Raw Food
Ingredientes
- 2 xícaras de avelãs
- 1 xícara de alfarroba em pó
- 1 xícara de tâmaras deixadas de molho
- 1 colherinha de extrato de baunilha
- 2 colheres de óleo de coco
- 1/2 xícara de creme de leite de coco (passar o coco seco fresco na centrífuga).
- 1/2 Xícara de polpa de coco verde
Modo de preparo
Coloque as avelãs em um processador de alimentos até assumir a consistência de creme. Depois, adicione a alfarroba, as tâmaras, o óleo de coco, a polpa de coco verde e a baunilha. Se no processador ainda restarem grumos, transfira para o liquidificador e acrescente mais creme de leite de coco. Bata até ficar bem brilhante e, em seguida,coloque num pote de vidro.
Benefícios do crudivorismo
Baixo teor de gordura e calorias: eliminar alimentos processados e outros elementos nocivos, tais como amido, açúcares refinados, farinha, óleo ou gorduras animais, tem efeitos rapidamente visíveis no corpo, principalmente no peso e na melhora do funcionamento do intestino. De quebra, o crudivorismo deixa a pele bonita e ameniza celulite, acne, psoríase, eczema e dermatite – associados ao consumo excessivo de alimentos gordurosos.
Melhor utilização dos nutrientes: o fato de a dieta de alimentos crus ser baixa em calorias não significa que ela seja pobre em nutrientes. Na verdade, as vitaminas e minerais de muitos alimentos se desintegram quando cozidas a uma temperatura acima de 40 graus. Logo, apostar na alimentação viva permite maior aproveitamento dos nutrientes.
Praticidade: quantas vezes você já abandonou a dieta porque não teve tempo suficiente para preparar pratos e seguir o planejamento à risca? Grande parte do tempo gasto na cozinha é consumido enquanto se espera por algo frio ser cozido. Se sua rotina é corrida e não tem muito tempo para gastar na cozinha, os alimentos crus podem se tornar bons aliados para economizar tempo. Mas, se você for do tipo que gosta de bancar a chef, nada te impede de fazer grandes e elaboradas refeições crudívoras.
Por que o crudivorismo pode fazer mal
O crudivorismo não provoca nenhum malefício agressivo à saúde em um primeiro momento. Lenina Matioli diz que, desde que tomados os devidos cuidados com o frescor e a higienização, não há prejuízos na ingestão de alimentos crus. Mas alerta que os crudívoros veganos, ou seja, que não consomem nada de origem animal, devem ser cautelosos com as proteínas da dieta, pois a variedade de grãos precisa ser maior para suprir essa necessidade. Também é preciso controlar os níveis de ferro, cálcio e vitamina B12, importante para as células sanguíneas e sistema nervoso: essa vitamina só está presente em alimentos de origem animal e, nos casos de veganos (crudívoros ou não), precisa ser suplementada. “É preciso fazer acompanhamento médico para não dar brecha às deficiências nutricionais”, alerta a especialista.
Já Gisele Barone chama atenção para o consumo de carnes para quem segue a dieta crua, mas não é vegetariano. Ela adverte que, quando ingeridas de forma crua, a possibilidade de intoxicação alimentar é dramaticamente aumentada devido à alta probabilidade de infecção por bactérias e parasitas. As pessoas que gostam de comer carne crua devem ter certeza de tomar as medidas adequadas em relação à higiene dos alimentos.
Dicas para quem quer se tornar uma crudívora
Além da dieta, o consumo de alimentos crus está ligado a um estilo de vida que une o plano físico, mental, emocional, espiritual, social e ambiental. A sua ideia central é a criação de uma forma responsável de vida em harmonia com a natureza.
Sandra Freitas conta como foi tomar essa decisão: “Eu estava procurando na internet uma maneira de ajudar minha mãe com seus problemas de saúde e achei o crudivorismo. Eu mesma resolvi experimentar. Quando senti os efeitos benéficos, em questão de poucos dias, simplesmente me apaixonei. Era tudo o que eu queria pra mim”. A blogueira ainda conta que a alimentação viva a ajudou a se livrar de problemas hormonais, retenção liquida e períodos menstruais difíceis, como fluxo intenso e cólicas. Eliminou oito quilos de inchaço e gordura, se livrando do efeito sanfona.
Lenina explica que o melhor caminho para quem come de tudo e quer mudar radicalmente de hábitos, é se propor a ficar quatro semanas sem consumir absolutamente nada industrializado – ou seja, não abrir nenhum pacote, comer tudo absolutamente natural, comprado na feira. Uma vez adaptada, comece a se inteirar do preparo dos alimentos.
Já a nutricionista Gisele mostra uma opção de passo a passo para a rotina de dieta viva:
Café da manhã crudívoro: melão, smoothie de frutas cruas ou outra opção rica em açúcar.
Almoço crudívoro: salada de folhas verdes com molho de gordura vegetal crua, tal como abacate, misturado com uma fruta açucarada, como laranja ou limão. Inclua uma ou duas porções de frutas para aumentar o seu nível de energia e carnes.
Jantar crudívoro: salada com mistura de vegetais de folhas verdes. Inclua alimentos ricos em gordura, como abacate, oleaginosas, sementes ou azeitonas para aumentar o valor nutricional da receita. Complete a refeição com frutas secas, cítricas ou vegetais crus. Evite bebidas alcoólicas. Beba leite cru ou de soja uma vez ao dia para obter mais nutrientes.
Lanches crudívoros: saladas de frutas ou de legumes, armazenadas em pequenos potes. Vitaminas ou smoothies, quando feitos com misturas nutritivas e ricas em fibras, podem substituir estas saladas.
texto escrito por @compergeovana e editado por @cicaarra.